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Ouro reabilita droga anti-HIV em teste
Partículas do metal conferem eficácia a medicamento que bloqueia a entrada do vírus em células sem intoxicá-las
Experimento de cientistas norte-americanos restaura pesquisa sobre fármaco que havia sido abandonado após ter se mostrado tóxico
Cristhian Charisius/Reuters
![](../images/d2605200801.jpg) |
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Pesquisadora manipula cultura de células infectadas com HIV para pesquisa em laboratório
DA REPORTAGEM LOCAL
Em poucas circunstâncias a
expressão "dourar a pílula" pode ganhar um significado positivo, mas é exatamente isso que
um grupo de cientistas da Universidade do Estado da Carolina do Norte (EUA) está fazendo
para tentar reabilitar uma classe esquecida de medicamentos
experimentais contra o HIV.
Em um trabalho cuja meta era
reformular uma droga que havia sido descartada na década
de 1990 por ser tóxica demais, o
grupo de pesquisadores, liderado pelo químico Christian Melander, descobriu que adicionar partículas de ouro à molécula do fármaco pode ajudar a
contornar o problema.
Em estudo publicado ontem
na revista científica "Journal of
the American Chemical Society", o grupo da Carolina do
Norte descreve como conseguiu reduzir a taxa de infecção
do HIV em culturas de células
humanas em laboratório ao
modificar a droga, batizada
com a sigla TAK-779.
Quando foi criado, na verdade, o medicamento já era eficaz.
O fármaco funciona ao se conectar com uma molécula na
superfície das células T do sistema imunológico -aquelas
que o vírus da Aids ataca. Com o
acesso a essas moléculas bloqueado, o vírus se torna incapaz de invadir as células.
Logo após os primeiros testes, porém, há mais de dez anos,
os cientistas desistiram do
TAK-779 porque sua fórmula
química incluía um sal de amônio (NH4+) que intoxicava as células humanas. Se essa parte do
composto fosse retirada, o remédio perdia a toxicidade, mas
perdia a eficácia também.
O sal de amônio na molécula,
porém, não era a parte do fármaco que agia diretamente sobre as células-alvo. Ele servia
para fazer com que várias moléculas do medicamento se
agrupassem e agissem com
mais eficácia quando chegassem às células T. O grupo da
Carolina do Norte, então, resolveu tentar usar ouro em nanopartículas (partículas com
tamanho da ordem de milionésimos de milímetros) para
substituir o papel do amônio.
"A idéia é que, ao grudar no
ouro essas moléculas individuais da droga com uma habilidade de ligação fraca, você consegue aumentar a habilidade
de ligação delas", diz Melander,
em comunicado à imprensa.
Nos testes em culturas de células, o pesquisador constatou
que uma molécula de ouro que
agrupasse 12 moléculas do fármaco tinha boa eficácia, enquanto as moléculas soltas da
droga não funcionavam bem. O
TAK-779 -rebatizado com a
sigla SDC-1721- pode agora retomar seu caminho normal de
pesquisa, com testes em animais e, posteriormente, se tudo
correr bem, em humanos.
Outros medicamentos
Segundo Melander, a descoberta descrita pelos pesquisadores no estudo publicado ontem também pode ter implicações importantes para a pesquisa de fármacos contra outros tipos de doença.
"Esse resultado sugere que a
apresentação multivalente de
pequenas moléculas na superfície de nanopartículas de ouro
pode converter drogas inativas
em potentes agentes terapêuticos", diz. "Não há nenhuma razão para pensar que este mesmo processo não possa ser usado com efeito similar sobre outras drogas existentes."
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