São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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RIO +10

Documento assinado por Suécia, Brasil e África do Sul pede presença de chefes de governo e Estado do G-8 em Johannesburgo

Carta invoca participação de países ricos

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
FHC passa bandeja a Thabo Mbeki, da África do Sul, representando a mudança de sede da cúpula


CLAUDIO ANGELO
LEILA SUWWAN

ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, viajou ontem para o Canadá levando uma carta que pede aos líderes do G-8 (grupo dos oito países mais ricos) que compareçam à Rio +10, conferência da ONU sobre ambiente e desenvolvimento sustentável que acontece em seu país a partir do dia 26 de agosto.
A carta, assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo primeiro-ministro sueco, Göran Persson, e pelo próprio Mbeki, foi produzida durante o seminário Rio +10 Brasil, encerrado ontem com a passagem da "tocha" da Eco-92 -representada por um prato de madeira amazônica certificada- para a Rio +10.
O conteúdo da mensagem só será divulgado no encontro do G-8. Mas ela deverá falar aos países ricos em termos mais genéricos do que os ambientalistas gostariam, para não afastar os americanos.
"Se você radicalizar, está dando aos americanos um pretexto para não ir a Johannesburgo. A ausência dos americanos condena a conferência ao fracasso", disse o assessor especial da Presidência para a Rio +10, Fábio Feldmann, lembrando que a presença do presidente George Bush (pai) foi crucial para a Eco-92.
Alguns pontos sensíveis da discussão com os EUA são os subsídios agrícolas e a mudança climática. Em maio, Bush anunciou o aumento do subsídio agrícola no país, o que prejudica as exportações dos países pobres -e o acesso aos mercados é considerado vital para o combate à pobreza. Em 2001, retirou-se do Protocolo de Kyoto, alegando que as metas do acordo para o combate ao efeito estufa prejudicariam a economia.
Apesar da prevista suavização do diálogo com o G-8, o diretor-executivo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Ambiente), Klaus Töpfer, disse que a reunião foi importante para elevar o nível político do debate. "Ele mostrou que estes três chefes de Estado estão preocupados."
Durante uma entrevista coletiva após a transferência da sede da Cúpula da Terra do Rio para Johannesburgo, FHC ressaltou a participação brasileira.
"O Brasil vai ter uma posição destacada nesta matéria. O presidente Mbeki está indo lá para o Canadá e vai se encontrar com o G-8. Ele vai levar uma carta nossa e eu vou estar falando pelo telefone com esses líderes do mundo todo para que nós possamos efetivamente dar um passo adiante em Johannesburgo."
Em discurso durante a cerimônia de transferência, FHC disse que a Rio +10 deve representar um sinal de que a "comunidade internacional é capaz de mobilizar a vontade política para decisões difíceis, mas necessárias".
"A hora é agora. A hora é esta", disse. "Hoje, os desafios são tão importantes como aqueles que se impunham há dez anos, entre os quais avançar na luta contra a pobreza, reforçar a proteção das florestas e assegurar uma resposta solidária e mais eficaz aos problemas da globalização assimétrica."
Para o canadense Maurice Strong, organizador das duas conferências ambientais da ONU (a de Estocolmo, em 1972, e a do Rio, em 1992), o encontro serviu para dar a liderança necessária à cúpula de Johannesburgo, ameaçada de fracassar pela falta de participação de chefes de Estado.
"Estou mais otimista. Neste ponto crítico, o que precisamos é de liderança. O presidente Cardoso mostrou liderança trazendo os chefes de Estado da Suécia e da África do Sul", disse Strong.



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