São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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EUA devem voltar ao debate ambiental

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A mudança de postura dos Estados Unidos com relação a questões ambientais, como o Protocolo de Kyoto, é uma questão de tempo, na opinião do presidente do WRI (World Resources Institute), Jonathan Lash.
O WRI é uma das mais importantes ONGs dos Estados Unidos, com sede em Washington, e atua há mais de duas décadas no setor. De 1993 a 1999, Lash participou do Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Presidência dos Estados Unidos, sob a administração de Bill Clinton.
Para ele, há uma dicotomia entre o que quer a sociedade norte-americana e a postura atualmente adotada por seu governo.
Ele até arrisca dizer que as mudanças na política ambiental do país mais rico do mundo acontecerão quando as eleições presidenciais estiverem se aproximando, em 2004.
"É muito claro que a realidade política de Washington está totalmente desafinada com as percepções do país em relação aos assuntos ambientais. Em todo o país, vemos pessoas preocupadas com questões como as mudanças climáticas, mas, por enquanto, há uma completa imobilidade da Casa Branca, que se nega a lidar com o assunto", afirma Lash, que esteve no Rio de Janeiro participando do encontro Rio +10 Brasil.
Segundo o ambientalista, quando há esse tipo de dicotomia, as coisas mudam muito rápido nos Estados Unidos: "Agora, [o presidente George W.] Bush é muito popular. Mas quando as eleições se aproximarem, acho que o conflito sobre ambiente vai aflorar e essa situação pode acabar mudando rapidamente".
Por essa razão, Lash chamou a atenção dos participantes do encontro no Rio para a necessidade de deixar o terreno preparado para que os Estados Unidos sejam incluídos nos acordos do Protocolo de Kyoto, que estipula que os países ricos devem reduzir em 5,2% (em média, com relação aos níveis de 1990) suas emissões de gás carbônico (CO2), o principal agente causador do aquecimento global, até 2012.
O presidente Bush abandonou o tratado em março de 2001, dizendo que suas metas eram prejudiciais à economia do país.
"É preciso criar um sistema flexível o suficiente para permitir que os Estados Unidos façam a parte deles, a partir do momento em que a política ambiental mudar e o país começar a demonstrar progresso nessa área. Acho importante que os países que ratificarem o protocolo não se movam numa direção que torne difícil a negociação com os Estados Unidos mais tarde", diz Lash.

Metas
O ambientalista, que preside uma ONG com experiência em pesquisa ambiental, diz concordar com a proposta do governo brasileiro de sair de Johannesburgo, onde acontecerá neste ano a Conferência Mundial Rio +10, com metas claras e estabelecidas a serem atingidas.
"Não devemos esperar que os países cumpram sua obrigação se não houver metas e prazos. Acho muito importante ter essas metas. Acho que essa proposta será aprovada. Em Bali [Indonésia, onde foi realizada a reunião preparatória para Johannesburgo], as únicas objeções ao sistema de metas vieram dos EUA."
Para Lash, todos os países precisam melhorar suas estatísticas sobre ambiente. "Esse esforço começou há apenas 20 anos, mas estamos progredindo", diz.



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