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ASTRONOMIA
Imagens divulgadas pela Nasa revelam núcleo do Borrelly, que é recoberto por uma crosta de material escuro
Sonda realiza vôo "rasante" sobre cometa
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma rocha de formato irregular, com a superfície cheia de recortes e vastas regiões cobertas
por um material orgânico negro.
A visão que a sonda Deep Space-1
obteve do cometa Borrelly em sua
aproximação máxima do objeto
celeste nada teve de bonitinha -e
tampouco de ordinária.
As imagens foram apresentadas
ontem pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa (agência espacial dos EUA). Mudam a
noção que os cientistas tinham da
superfície dos cometas. "É a segunda visão de perto que temos
de um núcleo cometário", disse à
Folha Don Yeomans, do JPL.
A primeira oportunidade de
conseguir imagens de um cometa
a poucas centenas de quilômetros
de distância foi quando a sonda
européia Giotto passou a cerca de
600 km do Halley, em 1986. Embora a distância da Deep Space-1
ao Borrelly no último sábado fosse quase quatro vezes maior que
essa -cerca de 2.200 km-, 15
anos na evolução dos equipamentos permitiram que a DS-1 obtivesse imagens muito melhores
que as da sonda da ESA (agência
espacial européia).
Antes da passagem da sonda
americana pelo Borrelly, as imagens da Giotto eram a única fonte
de informação disponível aos astrônomos para imaginar a superfície dos cometas. "Quando tínhamos apenas uma imagem, precisávamos presumir que todos os
cometas eram parecidos -o que
é muito arriscado. Agora, vimos
que eles também são bem diferentes entre si", disse Yeomans.
A diferença mais notável até
aqui, afirma o cientista, é a face
negra do objeto, que tem 8 km de
comprimento. "Ele é coberto por
uma crosta de material baseado
em carbono muito escuro, que reflete apenas cerca de 4% da luz",
afirmou. Mas essa não deve ser a
única novidade: "É apenas a mais
óbvia, outras devem surgir quando os dados da sonda forem analisados, em semanas".
Entre as questões que serão atacadas com os dados está a ligação
entre asteróides e cometas. O fato
de o Borrelly ser tão parecido com
o asteróide Eros, por exemplo,
pode não ser mera coincidência.
"Os dados podem mostrar alguma evidência de que, quando os
cometas perdem a capacidade de
emitir jatos de gás [criados a partir dos blocos de gelo que existem
em seu interior", eles se tornam
asteróides", afirmou Yeomans.
Dupla missão
O encontro da Deep Space-1
com o Borrelly -nome dado em
homenagem a seu descobridor, o
francês Alphonse Louis Nicolas
Borrelly- foi o segundo propiciado pela sonda. Em 1999, ela já
havia passado pelo asteróide Braille (homenagem ao criador da escrita para cegos, Louis Braille).
Nos dois encontros, a sonda obteve resultados científicos interessantes, embora nem precisasse. O
objetivo da Deep Space-1, assim
como das futuras Deep Space (em
inglês, "espaço profundo"), é testar inovações tecnológicas para a
exploração espacial.
O nome da sonda não tem relação com Deep Space-9, a estação
espacial fictícia da série de TV e cinema "Jornada nas Estrelas".
"Embora Marc Rayman, o chefe
da equipe da DS-1, seja um grande
fã da série", afirmou Yeomans.
Mesmo assim, o líder do grupo
está muito orgulhoso de sua sonda. "Ela atingiu algo que poderia
até se sustentar sozinho como o
resultado de uma missão primária -e é somente um bônus", disse Rayman no JPL.
A DS-1 leva consigo 12 equipamentos nunca antes usados em
uma sonda, incluindo um sistema
de navegação autônomo (a nave
pode corrigir seu curso sem qualquer ajuda do controle em terra) e
um motor iônico, capaz de impulsionar o veículo ao acelerar átomos de xenônio ionizado (veja
quadro à direita).
Poucas horas antes da aproximação máxima da DS-1 com o
Borrelly, a equipe de controle desligou seu domínio sobre a sonda,
deixando que ela navegasse no
automático, para testar sua autonomia. Se alguma coisa desse errado, a sonda poderia muito bem
se chocar com o cometa, pulverizando a possibilidade de obter dados científicos.
"Se fosse outra sonda, como a
Cassini, por exemplo, o controle
de terra não teria sido cortado",
disse Yeomans.
A missão da DS-1, que já havia
sido prorrogada em 1999, deve ser
encerrada em um mês ou dois.
"Estamos ficando sem combustível e estamos ficando sem dinheiro", contou Yeomans. O projeto
todo custou US$ 150 milhões.
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