São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NEUROLOGIA

Casos raros da doença puderam ser tratados

Revista aponta elo entre HIV e tipo de esclerose lateral amiotrófica

DAN FERBER
DA "SCIENCE NOW"

O vírus da Aids pode causar uma versão da esclerose lateral amiotrófica, que poderia ser tratada eficazmente com drogas anti-retrovirais, segundo dois estudos publicados na revista "Neurology" (www.neurology.org). As pesquisas reforçam a idéia de que a doença tenha origem viral.
À medida que os portadores de esclerose lateral amiotrófica adoecem, seus neurônios motores se degeneram, provocando a atrofia de músculos por todo o corpo. Após décadas de pesquisa, não está ainda claro qual seria a causa da morte dos neurônios.
Há muito os pesquisadores suspeitam de um vírus, mas as evidências nessa direção eram apenas circunstanciais.
Para descobrir se o HIV estava relacionado, o neurologista Antoine Moulignier, do Hospital Rothschild de Paris, examinou registros de 1.700 pacientes com HIV ou com sintomas neurológicos atendidos no hospital.
O pesquisador identificou seis pacientes HIV-positivos que haviam desenvolvido sintomas da esclerose lateral amiotrófica, uma incidência 27 vezes mais alta que a média da população. Nesses novos casos, a síndrome se desenvolvia de modo muito mais veloz que em sua forma ordinária, em semanas ou meses.O pesquisador testou amostras de tecidos para excluir outras causas de degeneração neural, tais como herpes, citomegalovírus e sífilis. Embora a esclerose lateral amiotrófica ordinária seja irreversível, dois dos pacientes com a nova síndrome se recuperaram depois de drogas anti-retrovirais (coquetel) conterem o vírus HIV.
Em artigo separado, o neurologista Daniel MacGowan, do Centro Médico Beth Israel, em Nova York, relata caso similar: uma mulher de 32 anos que desenvolveu rapidamente sintomas da esclerose lateral amiotrófica e testou positivamente para o HIV.
A mulher estava confinada ao leito, alimentava-se por tubos e era incapaz de falar. Recuperou-se inteiramente, porém, após um ano de tratamento com três drogas anti-retrovirais, que baixaram o HIV a níveis indetectáveis.
O caso de Nova York foi considerado "meio revolucionário, porque a maioria das síndromes de esclerose lateral amiotrófica não melhora", diz o neurologista Lewis Rowland, da Universidade Columbia (EUA).
Para ele, os artigos publicados levantam a questão sobre se a própria esclerose lateral amiotrófica seria causada por alguma infecção viral persistente.




Texto Anterior: Astronomia: Sonda realiza vôo "rasante" sobre cometa
Próximo Texto: Panorâmica - Biodiversidade: Biólogos lançam livro sobre flora paulista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.