São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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ÉTICA

Entidade que reúne associações científicas do planeta pede que pesquisadores ajudem a resolver problemas ambientais

Conselho quer ciência mais responsável

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Está acabando a era do cientista isolado achando que a ciência é neutra e que o problema é o uso que se pode fazer dela. "Estamos no processo de negociar um novo contrato com a sociedade", diz a pesquisadora americana Jane Lubchenco, presidente eleita da entidade que congrega as associações científicas do planeta, o ICSU (Conselho Internacional para a Ciência), como as academias nacionais de ciência. O ICSU realiza esta semana sua 27ª. assembléia geral no Rio de Janeiro.
"Esse novo contrato engaja os cientistas em prover o conhecimento necessário para a sociedade responder às questões mais críticas do momento", diz Lubchenco. E o maior desafio é justamente como efetuar a transição para a "sustentabilidade", isto é, um modelo de desenvolvimento econômico que não esgote os recursos naturais da Terra.
Foi justamente o avanço científico-tecnológico que permitiu ao homem influenciar a dinâmica do planeta, provocando, por exemplo, um aquecimento gradual nos últimos séculos. Ou seja, a ciência ajudou a criar o problema, e a agora caberia aos cientistas uma maior responsabilidade social.
"O motivo pelo qual nós temos essa mudança global é justamente porque não desenvolvemos a sustentabilidade", disse o pesquisador Will Steffen, do IGBP (Programa Internacional da Geosfera-Biosfera), que procura entender o funcionamento do planeta.
"A mudança em qualquer parte afeta toda parte", diz ele, exemplificando com as emissões de sulfatos no ar do hemisfério Norte, que provocaram uma diminuição das chuvas na África.
Segundo Ann Kinzig, da Universidade Estadual do Arizona (EUA), a população humana aumentou quatro vezes ao longo do século 20, mas o uso de água aumentou nove vezes e a exploração de recursos pesqueiros, 35 vezes. "Não podemos mais separar fenômenos ecológicos e sociais", diz a cientista, para quem há uma grande dose de incerteza quanto à possibilidade de se fazer previsões quanto ao futuro do planeta.
Uma das previsões do momento, o cenário mais pessimista, seria um aumento de 6C na temperatura média do globo no final do século 21. Uma mudança no padrão de circulação do oceano também traria mudanças radicais, por exemplo criando uma era glacial no norte da Europa.
A probabilidade de alguns desses eventos extremos pode ser baixa, diz Steffen, mas, se eles acontecerem, "não estaremos falando em sustentabilidade, mas em sobrevivência".
"A ciência não tem todas as respostas, mas pode e deve ajudar mais do que tem feito", afirma Lubchenco.


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