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ÉTICA
Entidade que reúne associações científicas do planeta pede que pesquisadores ajudem a resolver problemas ambientais
Conselho quer ciência mais responsável
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Está acabando a era do cientista
isolado achando que a ciência é
neutra e que o problema é o uso
que se pode fazer dela. "Estamos
no processo de negociar um novo
contrato com a sociedade", diz a
pesquisadora americana Jane
Lubchenco, presidente eleita da
entidade que congrega as associações científicas do planeta, o ICSU
(Conselho Internacional para a
Ciência), como as academias nacionais de ciência. O ICSU realiza
esta semana sua 27ª. assembléia
geral no Rio de Janeiro.
"Esse novo contrato engaja os
cientistas em prover o conhecimento necessário para a sociedade responder às questões mais
críticas do momento", diz Lubchenco. E o maior desafio é justamente como efetuar a transição
para a "sustentabilidade", isto é,
um modelo de desenvolvimento
econômico que não esgote os recursos naturais da Terra.
Foi justamente o avanço científico-tecnológico que permitiu ao
homem influenciar a dinâmica do
planeta, provocando, por exemplo, um aquecimento gradual nos
últimos séculos. Ou seja, a ciência
ajudou a criar o problema, e a
agora caberia aos cientistas uma
maior responsabilidade social.
"O motivo pelo qual nós temos
essa mudança global é justamente
porque não desenvolvemos a sustentabilidade", disse o pesquisador Will Steffen, do IGBP (Programa Internacional da Geosfera-Biosfera), que procura entender o
funcionamento do planeta.
"A mudança em qualquer parte
afeta toda parte", diz ele, exemplificando com as emissões de sulfatos no ar do hemisfério Norte, que
provocaram uma diminuição das
chuvas na África.
Segundo Ann Kinzig, da Universidade Estadual do Arizona
(EUA), a população humana aumentou quatro vezes ao longo do
século 20, mas o uso de água aumentou nove vezes e a exploração
de recursos pesqueiros, 35 vezes.
"Não podemos mais separar fenômenos ecológicos e sociais",
diz a cientista, para quem há uma
grande dose de incerteza quanto à
possibilidade de se fazer previsões
quanto ao futuro do planeta.
Uma das previsões do momento, o cenário mais pessimista, seria um aumento de 6C na temperatura média do globo no final do
século 21. Uma mudança no padrão de circulação do oceano
também traria mudanças radicais, por exemplo criando uma
era glacial no norte da Europa.
A probabilidade de alguns desses eventos extremos pode ser
baixa, diz Steffen, mas, se eles
acontecerem, "não estaremos falando em sustentabilidade, mas
em sobrevivência".
"A ciência não tem todas as respostas, mas pode e deve ajudar
mais do que tem feito", afirma Lubchenco.
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