São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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ESPAÇO

Variação cíclica da inclinação do eixo do planeta derreteu calota polar

Marte teve mudança brusca de clima

Associated Press/Nasa - 16.dez.2001
Imagem do pólo norte marciano feita pela Mars Global Surveyor


CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Assim como a Terra, Marte sofreu mudanças climáticas radicais no passado recente, que podem ajudar a explicar o sumiço da água que havia em sua superfície. Cientistas da França e dos EUA acabam de identificar a responsável por essas mudanças: a variação cíclica da inclinação do planeta nos últimos 5 milhões de anos.
Em estudo publicado na edição de hoje da revista "Nature" (www.nature.com), o grupo liderado por Jacques Laskar, do Observatório de Paris, afirma que as inclinações no eixo de Marte provocaram grandes aumentos de temperatura no verão que derretiam periodicamente a capa de gelo no pólo norte do planeta.
Para saber como o clima terrestre variou nos últimos 400 mil anos, os cientistas têm analisado a composição química de várias camadas de amostras de gelo da Antártida. Mas, até hoje, ninguém conseguiu gelo de Marte. Laskar e seus colegas tiveram de fazer sua análise literalmente no olho -a partir de imagens do pólo norte marciano feitas pela sonda Mars Global Surveyor, da Nasa.
Analisando as fotos da sonda, eles perceberam que as várias camadas da calota polar de Marte tinham padrões de brilho distintos. Algumas eram mais escuras que outras, provavelmente devido ao acúmulo de poeira -o planeta é um deserto frio- sobre o gelo.
Os pesquisadores, então, cruzaram os dados do satélite com as variações periódicas da inclinação o eixo de Marte. Descobriram que, em algumas épocas, a maior inclinação aumentou tanto a incidência da luz solar sobre o pólo norte no verão que o gelo marciano acabou derretendo.
"No verão austral se levantava muita poeira, que se depositou na calota polar norte. Daí algumas camadas de gelo serem escuras", disse Laskar à Folha.
Para o americano Alan Howard, da Universidade da Virgínia, que comentou o estudo na "Nature", os derretimentos periódicos eram suficientes para cobrir o planeta com vários metros de água -condições próprias para o desenvolvimento de vida.
"Mas o clima mudava rápido demais para que a vida evoluísse", ressalva Howard.


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