|
Próximo Texto | Índice
FÍSICA
Cientistas nos EUA lançam explicação unificada para observações que indicam variação em valores como velocidade da luz
Dupla tenta explicar "constantes variáveis"
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma dupla de físicos nos EUA
acaba de propor uma solução unificada para dois dos problemas
que mais assombram seus colegas, hoje: o fato de o Universo estar acelerando seu ritmo de expansão, por razões desconhecidas, e a suspeita de que certas
constantes universais não sejam
tão constantes assim -por motivos igualmente misteriosos.
Se Luis Alfredo Anchordoqui e
Haim Goldberg estiverem certos,
podem ajudar a salvar algumas
leis fundamentais da física.
No ano passado, houve até
ameaça de revogação de um ponto crucial da teoria da relatividade, com a sugestão de que talvez
nem a velocidade da luz fosse
constante. A conclusão não veio
dos muitos amadores que dizem
ser capazes de refutar a teoria de
Albert Einstein (1879-1955), mas
do físico britânico Paul Davies.
A conclusão de Anchordoqui e
Goldberg é que a mesma força
misteriosa que estaria acelerando
as galáxias cada vez para mais
longe umas das outras, a "energia
escura" (assim chamada porque
os cientistas não conseguem detectá-la), seria também responsável pela mudança na intensidade
da atração entre prótons e elétrons. Tal fenômeno é definido
pela constante de estrutura fina,
conhecida pela letra grega alfa.
A formulação da constante alfa
depende da velocidade da luz e da
chamada constante de Planck,
dois alicerces de toda a física moderna. Para ficar de pé, ela exige
que ambos os valores continuem
sendo constantes. Ocorre que algumas observações recentes tinham levado à incômoda conclusão de que a constante alfa pode
ter sido diferente no passado.
"A diferença é bem pequena,
mas apreciável", diz Anchordoqui, argentino que trabalha com o
colega Goldberg na Universidade
Northeastern, em Boston (EUA).
O estudo da dupla saiu na última edição da revista científica especializada "Physical Review D"
(prd.aps.org). Suas conclusões
foram extraídas com base num
modelo da energia escura que a
chama de "quintessência". Ela foi
concebida para explicar por que o
Universo continua acelerando
sua taxa de expansão.
No início de tudo, há 13,7 bilhões de anos, a força do Big Bang
atirou o conteúdo do Universo
nascente em todas as direções. A
matéria e a energia se condensaram em estrelas e galáxias, mas
prosseguiram em sua corrida.
Uma analogia útil é com um balão (o Universo) cheio de pintas
(as galáxias) -útil, mas não perfeita, porque o balão tem um exterior identificável, e o Universo,
não. À medida que o balão-Universo infla, as pintas-galáxias se
afastam cada vez mais umas das
outras. No processo, a gravidade
(análoga à tensão elástica do balão) estaria contrabalançando a
expansão, desacelerando-a.
No caso do balão, quando a tensão elástica ultrapassa certo limite, a bexiga estoura, e as pintas
voltam a se agrupar mais próximas, num espaço menor. Os cientistas achavam que o mesmo poderia acontecer com o Universo
-ou seja, haveria um limite para
sua expansão, que deveria se encontrar em desaceleração.
Em anos recentes, os pesquisadores constataram -com surpresa- que o cosmos está inflando cada vez mais rápido, em vez
de reduzir sua taxa de expansão.
Alguma coisa parece estar compensando a gravidade e sustentando o processo de crescimento.
Para Anchordoqui e Goldberg, o
fermento é a "quintessência", que
também alteraria a constante alfa.
A base da noção da quintessência é a badalada teoria das supercordas, que se propõe a unir num
só arcabouço teórico os dois pilares da física, relatividade e mecânica quântica. Essa teoria postula
que tudo que existe no Universo
seja feito de cordas que vibram
em 10 ou 11 dimensões.
Ainda não há experimentos capazes de testar a idéia das supercordas. Mas a proposta para explicar a variação da constante alfa
poderá ser testada em breve.
Planejados para verificar um
dos princípios da teoria da relatividade, o satélite francês Microscope e o euro-americano Step carregam experimentos que deverão
ser capazes de verificar com alta
precisão se a queda livre é igual
para substâncias diversas. O primeiro satélite decola em 2005.
Se a teoria de Einstein estiver
certa, o resultado será sempre o
mesmo, independentemente do
material em queda. Mas, se surgirem respostas diferentes, será
possível verificar se a discrepância
é compatível com as previsões de
Anchordoqui e Goldberg.
Próximo Texto: Panorâmica - Física: Europa escolhe hoje local que poderá abrigar o maior reator de fusão do mundo Índice
|