|
Próximo Texto | Índice
FERTILIDADE
Estudo da França e do Japão descobre substância com papel crucial na maturação de célula reprodutiva masculina
Proteína pode controlar espermatozóide
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma eficaz "pílula do homem"
pode estar escondida dentro do
seus próprio aparelho reprodutivo. Cientistas na França e no Japão descobriram uma proteína
em testículos de camundongos
capaz de impedir a maturação
dos espermatozóides. Estudos para elucidar o papel de proteínas
como essa na produção dos espermatozóides poderão ajudar
tanto no desenvolvimento de métodos contraceptivos em homens
quanto na solução de problemas
específicos de infertilidade.
A descoberta foi feita pela equipe de Betina Macho e Paolo Sassone-Corsi, do Instituto de Genética e Biologia Molecular e Celular, em Estrasburgo (França), em
colaboração com cientistas da
Universidade de Tóquio. Saiu na
última edição da revista "Science"
(www.sciencemag.org).
Para surpresa dos cientistas, a
nova proteína pertence a uma
classe, a das cinesinas, especializada em transporte de material nas
células, verdadeiras "estivadoras"
celulares. As cinesinas são capazes de carregar elementos como
vesículas, organelas ou complexos com várias proteínas.
A nova cinesina foi batizada de
KIF17b, por ser semelhante a uma
que existe no cérebro, a KIF17. A
descoberta parece indicar uma
nova função reguladora para esse
tipo de proteína. A KIF17b é expressada (produzida) em grande
quantidade nas células germinativas masculinas, que darão origem
aos futuros espermatozóides.
A formação das células reprodutivas masculinas ocorre constantemente. Essa "espermatogênese" pode estar prejudicada em
certos casos de infertilidade. Estudos anteriores haviam mostrado
que problemas como a morte das
células, ou sua malformação, estão ligadas à não-produção da
proteína CREM nos testículos.
A espermatogênese depende da
interação de duas proteínas, a
CREM e a ACT, no núcleo das espermátides, as células germinativas que darão origem aos espermatozóides ao amadurecer. A
ACT é expressada apenas nas espermátides. Os cientistas descobriram agora que a cinesina
KIF17b é quem comanda o posicionamento da ACT em lugares
específicos da célula durante a
maturação do espermatozóide.
Eles notaram que, se houver
uma produção excessiva da cinesina, a ACT não consegue entrar
no núcleo celular, e a CREM se
torna inativa. Se a quantidade da
KIF17b volta ao normal, a CREM
reinicia sua atividade, e a formação de espermatozóides retorna.
Quando se retira o gene responsável pela CREM de um camundongo, vários outros ligados à espermatogênese são afetados também. Por exemplo, os genes que
contribuem para compactar a
"cabeça" do espermatozóide. Outro efeito notado foi impedir a espermátide de desenvolver a cauda
do espermatozóide, tornando a
célula incapaz de se movimentar.
Como a CREM também é expressada nas glândulas pituitária
e pineal, a equipe de Macho ainda
não tem claro se a infertilidade em
camundongos sem o gene se deve
apenas às interações no testículo
ou se a sua função nessas glândulas estaria igualmente envolvida.
Próximo Texto: Geociência: Pesquisa da UnB data "renascimento" da vida Índice
|