São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

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FERTILIDADE

Estudo da França e do Japão descobre substância com papel crucial na maturação de célula reprodutiva masculina

Proteína pode controlar espermatozóide

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma eficaz "pílula do homem" pode estar escondida dentro do seus próprio aparelho reprodutivo. Cientistas na França e no Japão descobriram uma proteína em testículos de camundongos capaz de impedir a maturação dos espermatozóides. Estudos para elucidar o papel de proteínas como essa na produção dos espermatozóides poderão ajudar tanto no desenvolvimento de métodos contraceptivos em homens quanto na solução de problemas específicos de infertilidade.
A descoberta foi feita pela equipe de Betina Macho e Paolo Sassone-Corsi, do Instituto de Genética e Biologia Molecular e Celular, em Estrasburgo (França), em colaboração com cientistas da Universidade de Tóquio. Saiu na última edição da revista "Science" (www.sciencemag.org).
Para surpresa dos cientistas, a nova proteína pertence a uma classe, a das cinesinas, especializada em transporte de material nas células, verdadeiras "estivadoras" celulares. As cinesinas são capazes de carregar elementos como vesículas, organelas ou complexos com várias proteínas.
A nova cinesina foi batizada de KIF17b, por ser semelhante a uma que existe no cérebro, a KIF17. A descoberta parece indicar uma nova função reguladora para esse tipo de proteína. A KIF17b é expressada (produzida) em grande quantidade nas células germinativas masculinas, que darão origem aos futuros espermatozóides.
A formação das células reprodutivas masculinas ocorre constantemente. Essa "espermatogênese" pode estar prejudicada em certos casos de infertilidade. Estudos anteriores haviam mostrado que problemas como a morte das células, ou sua malformação, estão ligadas à não-produção da proteína CREM nos testículos.
A espermatogênese depende da interação de duas proteínas, a CREM e a ACT, no núcleo das espermátides, as células germinativas que darão origem aos espermatozóides ao amadurecer. A ACT é expressada apenas nas espermátides. Os cientistas descobriram agora que a cinesina KIF17b é quem comanda o posicionamento da ACT em lugares específicos da célula durante a maturação do espermatozóide.
Eles notaram que, se houver uma produção excessiva da cinesina, a ACT não consegue entrar no núcleo celular, e a CREM se torna inativa. Se a quantidade da KIF17b volta ao normal, a CREM reinicia sua atividade, e a formação de espermatozóides retorna.
Quando se retira o gene responsável pela CREM de um camundongo, vários outros ligados à espermatogênese são afetados também. Por exemplo, os genes que contribuem para compactar a "cabeça" do espermatozóide. Outro efeito notado foi impedir a espermátide de desenvolver a cauda do espermatozóide, tornando a célula incapaz de se movimentar.
Como a CREM também é expressada nas glândulas pituitária e pineal, a equipe de Macho ainda não tem claro se a infertilidade em camundongos sem o gene se deve apenas às interações no testículo ou se a sua função nessas glândulas estaria igualmente envolvida.


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