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Cientista critica abertura de estradas na Amazônia
Tom Lovejoy, que cunhou a expressão "diversidade biológica", falou em fórum no AM
Para pesquisador, rodovia
BR-319 pode ser trocada por
ferrovia; crítica foi feita ao
lado do governador do
Estado, que apoia asfalto
Raimundo Valentim/Efe
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O ecólogo americano Thomas Lovejoy fala em Manaus, ontem
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
ENVIADAS ESPECIAIS A MANAUS
O cientista que inventou o
conceito de diversidade biológica, americano Thomas Lovejoy, criticou ontem, na abertura
do Fórum Internacional de
Sustentabilidade, em Manaus,
a construção de estradas em regiões intocadas da Amazônia.
Para Lovejoy, as rodovias representam impactos sérios e
podem ser substituídas por ferrovias e hidrovias.
Segundo o cientista, em um
fragmento de cem hectares
desmatado perde-se a metade
das espécie de aves e as grandes
árvores são destruídas. "Pode-se perder até 30% da biomassa,
da massa viva da floresta."
Lovejoy fez a crítica ao lado
do governador do Amazonas,
Eduardo Braga (PMDB), que
-junto aos ministros Dilma
Rousseff e Alfredo Nascimento- participou da inauguração,
nesta semana, de um trecho
inacabado da estrada BR-319
(Manaus-Porto Velho). A estrada é de interesse de Nascimento, que é do Amazonas.
O governo Lula diz que vai
autorizar a construção de uma
estrada-parque na BR-319.
Segundo o Ministério dos
Transportes, o conceito de estrada-parque é deixar no entorno da rodovias várias áreas protegidas, como unidades de conservação -que ainda serão
criadas pelo governo federal.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que assistiu à palestra de Lovejoy, disse que o governo está fazendo "um esforço
muito grande para retomar os
investimentos em ferrovias".
"A estrada [BR-319] tem de
ser muito bem fiscalizada, tem
de ter um corredor ambiental
de proteção, porque, evidentemente, isso tem de ser compatível com a preservação da floresta", afirmou Mercadante.
"Mas nós precisamos olhar
para [o transporte na] Amazônia como ferrovia e hidrovia,
porque são formas de transporte muito mais compatíveis com
a sustentabilidade do que as rodovias", disse o senador.
Lovejoy afirmou que acompanhou o impacto ambiental
causado pelas rodovias ao estudar a abertura de estradas em
Rondônia, Estado ligado ao resto do país pela BR-364, pavimentada nos anos 1980.
"Naquela década nós começamos a ver a presença do fogo,
principalmente em Rondônia,
e dez anos depois esse fogo se
alastrou por conta do El Niño.
Houve uma enorme nuvem de
fumaça que se colocou sobre a
América do Sul", disse Lovejoy.
"E as estradas continuam
sendo rasgadas dentro da floresta até hoje, inclusive [estão
sendo feitas] três estradas interoceânicas do oeste da Amazônia até o oceano Atlântico."
Lovejoy é doutor em biologia
e conselheiro-chefe de biodiversidade para o Banco Mundial. Sobre a pavimentação da
BR-319, ele disse que na sua
opinião uma ferrovia seria a
melhor opção para minimizar
os impactos ambientais.
"É bom evitar rodovia. Quando tem que construir uma rodovia tem que planejar o uso da
terra antes de construção. Isso
incluiu um grande programa de
fiscalização", disse o cientista.
O diretor da Campanha
Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, disse que a construção da BR-319 será um incentivo a mais à devastação da floresta. Segundo ele, a estrada
atende apenas a interesses eleitorais, representados por políticos com interesse em obter
votos no interior do Estado.
"A opção pela ferrovia seria
muito mais interessante, já que
permitiria um controle mais
eficaz da ocupação humana, e
apenas nos pontos em que se
construíssem as estações."
(KÁTIA BRASIL, LAURA CAPRIGLIONE E MARLENE BERGAMO)
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