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GENOMA
Anúncio no Reino Unido ocorreu antes de evento nos EUA; ministro francês destaca questão das patentes sobre genes humanos
Para ingleses, conquista ultrapassa a da Lua
RICARDO GRINBAUM
de Londres
Em ambiente de grande euforia,
pesquisadores britânicos do Projeto Genoma Humano (PGH)
também anunciaram, em Londres, poucas horas antes do evento em Washington, o sequenciamento do genoma humano. Para
eles, um evento tão importante
quanto a invenção da roda ou as
primeiras descobertas sobre anatomia humana, há 2.000 anos.
"O mapeamento do genoma
tem sido comparado à chegada
do homem à Lua, mas vai além,
porque será visto como uma conquista permanente da humanidade", disse Michael Dexter, diretor
da Wellcome Trust, a organização
sem fins lucrativos que pagou a
pesquisa no Reino Unido.
Ao final da apresentação, Dexter pediu aos repórteres de vários
países que aplaudissem os cientistas britânicos responsáveis "por
um avanço capaz de mudar a vida
de cada pessoa do planeta".
Os cientistas britânicos disseram que o PGH já concluiu a leitura de 97% do genoma humano
e que completaram 85% da sequência do DNA humano.
"Os avanços mais imediatos serão no campo do diagnóstico de
doenças", disse à Folha John Sulston, diretor do Sanger Centre, responsável por um terço do sequenciamento do PGH.
"O que vai demorar mais tempo
são os novos tratamentos", disse o
diretor do Sanger. "Mas existem
perspectivas muito boas de que as
informações possibilitem a cura
para doenças como o câncer."
Segundo disse à Folha Richard
Durtin, diretor de bioinformática
do Sanger Centre, "nos próximos
dez anos o conhecimento do genoma humano vai afetar radicalmente o modo como encaramos a
questão da raça e das etnias".
A pesquisa deve continuar nos
próximos anos, mesmo porque
existem várias lacunas na leitura
dos genes. Só 24% do total dos genes estão identificados plenamente, na condição chamada pelos
cientistas de "padrão ouro".
"É um trabalho que precisamos
concluir porque servirá de base
para qualquer estudo que se fizer
sobre o ser humano dentro de mil
ou 10 mil anos", disse Durbin,
aparentando entusiasmo.
Na França
Coube ao ministro da Pesquisa
da França, Roger-Gérard
Schwartzenberg, fazer ontem em
Paris o anúncio da conclusão do
sequenciamento do genoma. Para
ele, "a produção da sequência do
DNA conheceu uma aceleração
prodigiosa ao longo do ano".
"Mais de 60% dos dados disponíveis hoje foram obtidos ao longo dos últimos seis meses. Durante esse período, o consórcio PGH
produziu um fluxo contínuo de
sequências brutas de mil bases
por segundo, trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana."
Schwartzenberg afirmou que os
dados do projeto "foram colocados à disposição do domínio público desde sua obtenção, sem
restrição de utilização".
Segundo ele, as sequências brutas do genoma humano não podem ser patenteadas. "O saber genético não pode ser confiscado."
A França possui, desde 1997, um
Centro Nacional de Sequenciamento, o Genoscope, órgão que
representa o país no PGH.
O diretor-adjunto da instituição, Francis Quetier, disse à Folha
que a segunda etapa do projeto, o
"pós-sequenciamento", deverá
consumir pelo menos cinco anos.
Quetier diz que o PGH está para
a biologia assim como o projeto
Apollo esteve para a descoberta
do espaço. "Há um certo paralelo
entre os dois, isso é inegável."
Ele reconheceu que "não há
harmonização entre países parceiros no projeto, principalmente
entre EUA e Europa", no que se
refere ao patenteamento de genes.
Colaborou Ronaldo Soares, de Paris
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