São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2000


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GENOMA
Anúncio no Reino Unido ocorreu antes de evento nos EUA; ministro francês destaca questão das patentes sobre genes humanos
Para ingleses, conquista ultrapassa a da Lua

RICARDO GRINBAUM
de Londres

Em ambiente de grande euforia, pesquisadores britânicos do Projeto Genoma Humano (PGH) também anunciaram, em Londres, poucas horas antes do evento em Washington, o sequenciamento do genoma humano. Para eles, um evento tão importante quanto a invenção da roda ou as primeiras descobertas sobre anatomia humana, há 2.000 anos.
"O mapeamento do genoma tem sido comparado à chegada do homem à Lua, mas vai além, porque será visto como uma conquista permanente da humanidade", disse Michael Dexter, diretor da Wellcome Trust, a organização sem fins lucrativos que pagou a pesquisa no Reino Unido.
Ao final da apresentação, Dexter pediu aos repórteres de vários países que aplaudissem os cientistas britânicos responsáveis "por um avanço capaz de mudar a vida de cada pessoa do planeta".
Os cientistas britânicos disseram que o PGH já concluiu a leitura de 97% do genoma humano e que completaram 85% da sequência do DNA humano.
"Os avanços mais imediatos serão no campo do diagnóstico de doenças", disse à Folha John Sulston, diretor do Sanger Centre, responsável por um terço do sequenciamento do PGH.
"O que vai demorar mais tempo são os novos tratamentos", disse o diretor do Sanger. "Mas existem perspectivas muito boas de que as informações possibilitem a cura para doenças como o câncer."
Segundo disse à Folha Richard Durtin, diretor de bioinformática do Sanger Centre, "nos próximos dez anos o conhecimento do genoma humano vai afetar radicalmente o modo como encaramos a questão da raça e das etnias".
A pesquisa deve continuar nos próximos anos, mesmo porque existem várias lacunas na leitura dos genes. Só 24% do total dos genes estão identificados plenamente, na condição chamada pelos cientistas de "padrão ouro".
"É um trabalho que precisamos concluir porque servirá de base para qualquer estudo que se fizer sobre o ser humano dentro de mil ou 10 mil anos", disse Durbin, aparentando entusiasmo.

Na França
Coube ao ministro da Pesquisa da França, Roger-Gérard Schwartzenberg, fazer ontem em Paris o anúncio da conclusão do sequenciamento do genoma. Para ele, "a produção da sequência do DNA conheceu uma aceleração prodigiosa ao longo do ano".
"Mais de 60% dos dados disponíveis hoje foram obtidos ao longo dos últimos seis meses. Durante esse período, o consórcio PGH produziu um fluxo contínuo de sequências brutas de mil bases por segundo, trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana."
Schwartzenberg afirmou que os dados do projeto "foram colocados à disposição do domínio público desde sua obtenção, sem restrição de utilização".
Segundo ele, as sequências brutas do genoma humano não podem ser patenteadas. "O saber genético não pode ser confiscado."
A França possui, desde 1997, um Centro Nacional de Sequenciamento, o Genoscope, órgão que representa o país no PGH.
O diretor-adjunto da instituição, Francis Quetier, disse à Folha que a segunda etapa do projeto, o "pós-sequenciamento", deverá consumir pelo menos cinco anos.
Quetier diz que o PGH está para a biologia assim como o projeto Apollo esteve para a descoberta do espaço. "Há um certo paralelo entre os dois, isso é inegável."
Ele reconheceu que "não há harmonização entre países parceiros no projeto, principalmente entre EUA e Europa", no que se refere ao patenteamento de genes.


Colaborou Ronaldo Soares, de Paris


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