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LUTA ANTI-AIDS
Homossexual afirma que escapar da contaminação levou-o a participar de teste com droga que tem proteína do HIV
Eu tenho sorte, diz voluntário de vacina
ALESSANDRA BLANCO
de Nova York
O coordenador da clínica Philadelphia Fight, Petr Pronsati, e o
médico Mark Watkins foram os
primeiros norte-americanos a se
submeterem ao único teste em
grande escala com humanos com
o que poderá vir a ser uma vacina
contra a Aids.
Para realizar o teste, a Vaxgen
Inc., que produz a "vacina" Aidsvax, selecionou 5.000 voluntários
norte-americanos de um grupo
bem específico: homossexuais
sem um relacionamento sexual estável e mulheres que tenham parceiros sexuais HIV positivo, considerados parte da população de alto risco.
Pronsati e Watkins são homossexuais e veteranos na luta contra
a Aids. O primeiro trabalha em
uma clínica de ajuda a aidéticos. O
segundo trabalha no tratamento
de pacientes da doença.
Além da vacina que tomaram na
terça-feira, na Filadélfia, Pensilvânia (EUA), Pronsati e Watkins deverão tomar mais seis doses nos
próximos três anos.
Nenhum dos dois sabe se estará
tomando a vacina com a proteína
do HIV ou um placebo (substância inócua, usada em experimentos). De qualquer forma, não há
nenhum risco em tomar a vacina,
já que ela não leva o vírus.
A cada três meses, todos os 5.000
voluntários farão também exames
de sangue para verificar a quantidade de anticorpos.
"Para essa população, não existe o sexo 100% seguro. Os pesquisadores sabem que 1,5% dessas
pessoas iriam se tornar HIV positivo. Com os testes, poderão comparar resultados para saber se a
vacina funciona", disse Watkins.
Ao todo, 25 vacinas têm sido testadas no mundo, mas nenhuma
chegou à chamada Fase 3, a última
para ser aprovada pela FDA (agência reguladora de medicamentos e
alimentos dos EUA).
Leia a seguir trechos da entrevista que Pronsati concedeu à Folha,
por telefone, de Filadélfia.
Folha - Por que você decidiu participar do teste com a vacina contra a Aids?
Petr Pronsati - Eu tenho vivido
em uma comunidade homossexual nos últimos 13 anos. Tenho
muitos amigos soropositivos,
muitos amigos que já morreram
por causa da Aids. Considero-me
uma pessoa de sorte por todos os
meus testes até hoje terem dado
negativo. Então, quando soube
dos testes para a vacina, achei que
precisava fazer alguma coisa para
ajudar as outras pessoas.
Folha - Em algum momento você
teve medo?
Pronsati - Não, não há riscos, já
que o material injetado não é o vírus vivo.
Folha - Mas você teve algum tipo
de dúvida antes de se oferecer como voluntário?
Pronsati - Várias pessoas vieram me perguntar o que eu achava
disso, se elas deveriam fazer ou
não. Eu nem pensei, me ofereci como voluntário na semana passada,
já tomei a primeira injeção e estou
me sentindo muito bem. Eu realmente não tinha nenhuma razão
para não fazer isso. Principalmente porque trabalho em uma clínica
de ajuda a doentes de Aids.
Folha - Há algum efeito colateral?
Pronsati - Dor muscular e febre, mas eu não senti nada.
Folha - Que tipo de perguntas
você teve de responder para ser
aprovado para o teste?
Pronsati - Primeiro, você tem
de responder um questionário sobre sua vida sexual, com perguntas
do tipo quantos parceiros teve nos
últimos tempos e uso de preservativo. Monogâmicos foram excluídos, assim como usuários de drogas injetáveis. Depois, houve uma
longa entrevista com um conselheiro, uma espécie de psicólogo,
que me perguntou por que eu não
adotava um comportamento monogâmico mesmo sabendo dos
riscos que estava correndo.
Folha - Qual será o procedimento
agora, após a primeira injeção?
Pronsati - Não entendo muito
desses testes. Mas, pela explicação
que recebi, deverei fazer exames
de sangue constantemente, e eles
vão examinar o nível de anticorpos
no meu sangue. Também tomarei
mais seis injeções nos próximos
três anos.
Folha - Você foi selecionado porque faz parte de um grupo considerado de alto risco. O que você
pensa sobre isso?
Pronsati - Não é uma resposta
fácil. Eu tomo todos os tipos de
cuidados, só faço sexo com preservativo, não uso drogas, já fiz vários
testes, mas é verdade que sempre
algo pode dar errado. Ninguém
que faz sexo hoje, nem homossexual, nem heterossexual, está totalmente seguro. Talvez por isso
tenha me decidido facilmente.
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