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Efeito estufa favorece o cólera, diz pesquisa
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo sobre a incidência
do cólera em Bangladesh demonstrou pela primeira vez que a
intensificação do aquecimento do
planeta está alterando o comportamento das doenças que afetam
o homem.
Mercedes Pascual, da Universidade de Michigan (EUA), e colegas queriam descobrir se havia
correlação entre o fenômeno conhecido como El Niño e variações
na incidência do cólera em Bangladesh, onde é endêmico.
O El Niño ou Oscilação Sul é um
fenômeno cíclico de interação da
atmosfera com o oceano, no qual
ocorrem o aumento da temperatura da superfície do mar e alterações nos ventos no oceano Pacífico equatorial, principalmente ao
longo da costa peruana. De 1900 a
1997 ocorreram 28 casos de El Niño. O fenômeno afeta o clima em
uma vasta área do globo.
A equipe de Pascual usou dados
de incidência de cólera de 1893 a
1940 e de 1980 a 2001. Os dados do
começo do século passado não tiveram correlação com o El Niño.
Já no período mais recente se percebeu um elo entre o fenômeno
climático e a doença. O aquecimento do mar é favorável à multiplicação da bactéria causadora da
doença, Vibrio cholerae.
A associação entre calor e doença pode parecer natural, mas não
é tão simples assim. "O problema
é que mudanças no clima ocorrem ao longo de períodos muito
longos, e isso torna difícil obter
evidências das mudanças nos padrões da doença", diz Pascual.
"Nós comparamos a variabilidade da doença ano a ano e como
ela se relaciona com a variabilidade ano a ano do índice de El Niño.
Vimos que o elo entre a variabilidade da doença e a do clima se tonou mais evidente nas últimas
duas décadas", afirma a pesquisadora. Ela interpreta esse fato como resultado de mudanças provocadas no El Niño pelo aquecimento do planeta. Desde os anos
50, a temperatura da superfície da
Terra aumentou em média 0,6C.
A pesquisa, publicada na última
edição da revista científica americana "PNAS" (www.pnas.org),
"representa a primeira evidência
de que as tendências de aquecimento ao longo do último século
estão afetando a doença humana", segundo comentou, na mesma revista, Jonathan Patz, da Universidade Johns Hopkins.
O aumento da temperatura do
planeta, associado à maior variabilidade, tornam mais difícil controlar o cólera em um cenário de mudança climática, diz Patz. Mas, para ele, o estudo também tem
seu lado otimista, ao melhorar a capacidade de previsão quanto ao
risco da doença na região.
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