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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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Solenidade cívico-militar às 10h de hoje homenageia os 21 mortos no acidente com foguete na base de Alcântara (MA)

Presidente vai a cerimônia em São José

ELIANE MENDONÇA
DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

Uma cerimônia cívico-militar em homenagem aos 21 mortos no acidente com o foguete VLS-1 em Alcântara (MA) acontece hoje, a partir das 10h, no ginásio de esportes do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), em São José dos Campos (96 km de São Paulo).
A solenidade contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Defesa, José Viegas, e do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Até as 18h, o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, e o presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), Luiz Bevilacqua, não tinham confirmado presença na solenidade, segundo a assessoria de comunicação do CTA.
Também não havia uma previsão exata de horário para a chegada dos corpos à cidade. Segundo o Cecomsaer (Centro de Comunicação Social da Aeronáutica), isso deveria ocorrer durante a madrugada ou pela manhã.

Acesso restrito
Devido ao pequeno espaço do ginásio, local onde acontecerá a cerimônia, o CTA estava distribuindo ontem às famílias de cada uma das vítimas dez convites para o acesso ao local da homenagem.
Segundo Angelo Ananias, cunhado de uma das vítimas -o técnico eletrônico Sidney Aparecido de Moraes-, a família foi avisada sobre a chegada dos corpos no final da tarde, por telefone. Segundo Ananias, o CTA já havia dito aos familiares no domingo que o acesso seria restrito.
Com isso, a família já havia decidido quem iria à cerimônia: "Participarão apenas os cinco irmãos, com as mulheres, além dos pais, mulher e filhos de Sidney".
Depois da solenidade, que deve durar cerca de uma hora, cada família levará o corpo de seu parente para a realização do velório e sepultamento no local escolhido.
Os corpos devem chegar a São José em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) que irá pousar no aeroporto da cidade.

Identificação das vítimas
O CTA enviou ontem ao IML (Instituto Médico Legal) de São Luís (MA) um médico legista que levava documentos para auxiliar na confirmação da identidade de cada um dos corpos e agilizar a liberação. O IML decidiu reter 5 dos 21 corpos de funcionários do CTA mortos no incêndio da última sexta-feira no Centro de Lançamento de Alcântara.
O diretor do IML, Wanderley Souza, consultou a assessoria jurídica do órgão e decidiu que os cinco corpos não podem deixar o instituto sem identificação e atestado de óbito. Enquanto isso não ocorrer, os corpos ficarão na câmara fria do IML maranhense.
"Lamento estar prolongando a dor das famílias, mas, legalmente, elas não podem nem velar um corpo assim [sem atestado de óbito]", disse Souza, que tomou a medida com a concordância da Aeronáutica.
Os cinco corpos não puderam ser identificados por falta de estrutura no IML maranhense para exames de DNA. Souza pediu ajuda, por telefone, ao laboratório de DNA do Instituto de Criminalística de São Paulo. Os outros 16 corpos foram identificados por exames de arcada dentária.
O piloto comercial Luís Cláudio Almeida, irmão de um dos mortos que faz o papel de porta-voz das famílias das vítimas no IML maranhense, lamentou que a Aeronáutica não tenha fichas organizadas e completas de funcionários que exerciam trabalho de tão extremo risco, com, por exemplo, chapas panorâmicas de raios X da arcada dentária. Também disse que os funcionários não usavam plaquetas de identificação no pescoço -como ocorre com soldados e pilotos de vôos comerciais.
A demora em obter as fichas odontológicas das vítimas foi um dos motivos do atraso da identificação dos corpos. O dentista de um dos mortos, por exemplo, teve de ser procurado no Japão.
Antonio Carlos Cerri, presidente da comissão de investigação, disse que "[as famílias] precisam de um corpo para velar. Enquanto isso não acontece, a preocupação é muito grande".

Fotos da perícia
O diretor do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, José Ribamar Cruz Ribeiro, 57, recebeu ontem as fotografias da perícia técnica tiradas a partir das 16h45 de sexta-feira (o acidente ocorreu por volta das 13h30). As imagens mostram toneladas de ferro retorcido e corpos carbonizados, sem roupa nem sapatos.
Pelo menos um corpo teve o crânio destruído pela alta temperatura, que teria atingido entre 2.000C e 3.000C (metade da temperatura externa do Sol).
Cerca de 30 jornalistas foram autorizados a entrar na área do acidente anteontem. Os destroços só puderam ser vistos a uma distância segura de 30 metros.
Quando os jornalistas chegaram ao local, um grupo de funcionários do CTA trabalhava na perícia dentro da estrutura metálica, indicando que o risco de novos incêndios ou explosões já estava descartado. Não havia focos de incêndio nem de fumaça nos destroços ou no mato em volta. A 53 metros da torre, escapou ilesa uma casa de apoio, onde estavam 20 pessoas na hora do acidente.


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