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MEDICINA
Estudo indica que até doses pequenas da droga lesam as células do cérebro envolvidas no surgimento da doença
Ecstasy pode acelerar mal de Parkinson
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Duas ou três doses de ecstasy,
nas mesmas quantidades e intervalos em que a droga é normalmente usada, podem ser suficientes para causar danos severos ao
cérebro. E o pior: as células nervosas mais afetadas são as mesmas
que desaparecem no mal de Parkinson, deixando o usuário mais
predisposto à doença.
Esse cenário, de pesadelo para
certos frequentadores de danceterias e raves (festas com música
eletrônica nas quais a droga costuma ser consumida), é pintado
por uma pesquisa que sai hoje na
revista científica "Science"
(www.sciencemag.org).
Testes em macacos revelaram
dano maciço aos axônios (terminações nervosas) dos neurônios
que produzem dopamina, uma
substância vital para a transmissão de mensagens químicas no
cérebro. "As doses que as pessoas
estão usando claramente são danosas", disse à Folha Una
McCann, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins, nos
EUA, co-autora do estudo.
Já se sabia que o ecstasy embaralhava o funcionamento dos
neurônios que produzem serotonina, outro mensageiro neuronal.
Desta vez, porém, os pesquisadores flagraram também a destruição dos axônios das células
produtoras de dopamina e o sumiço de até 70% dessa molécula
no cérebro -e isso seis semanas
depois da injeção da droga.
A idéia de McCann e seus colegas era testar o que acontecia depois de uma "dose recreacional
comum", como a tomada por frequentadores de raves. É normal
que eles tomem mais de um comprimido da droga em poucas horas de intervalo -cerca de 25%
dos usuários da droga fazem isso,
de acordo com um estudo da Universidade Federal de São Paulo.
Para ver o que ocorria nesses casos, os cientistas deram três doses
de 2 mg de ecstasy (cujo nome
verdadeiro é metilenodioximetanfetamina) por quilo de peso
corporal para macacos, com intervalos de três horas.
Para o cérebro dos animais, examinado de duas a seis semanas
depois, o resultado foi devastador. "Os axônios se despedaçaram", diz McCann. "A própria estrutura das células foi afetada."
Efeitos na coordenação motora
(que depende dos neurônios produtores de dopamina) não foram
aparentes, mas testes mostraram
que havia maior propensão a perder essa capacidade -o que é comum em doentes de Parkinson.
"Ainda não sabemos quanto seria preciso usar a droga para que
algo parecido com Parkinson surgisse", diz McCann. "Mas, como a
dopamina diminui com a idade,
até o uso ocasional poderia predispor a pessoa a ter o problema."
Para o psiquiatra Dartiu Xavier
da Silveira, da Unifesp, o estudo é
interessante por sugerir um elo
entre a droga e Parkinson, mas
tem limitações: "O fato de o teste
ser feito em macacos e a mudança
de ingestão para injeção são problemas. Seria preciso fazer análises parecidas em humanos", diz.
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