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Poluição de barcos é metade da dos carros
Estudo com estimativa global compara marinha mercante ao transporte rodoviário em emissão de fumaça e poeira
Levantamento levou em conta tipo de poluente que prejudica diretamente a qualidade do ar e a saúde de pessoas que o respiram
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os navios comerciais (incluindo os cruzeiros) emitem
quantidade de poeira e fumaça
equivalente a metade daquela
gerada pelo tráfego rodoviário
no mundo. O chamado material particulado -que prejudica
a qualidade do ar e causa doenças- é proveniente da queima
de combustíveis fósseis em carros e caminhões, mas o transporte naval tem um peso da
mesma ordem de grandeza no
problema, mostra novo estudo.
O levantamento, feito por
um grupo americano, revela
agora a estimativa da contribuição da marinha mercante
para a emissão desse poluente a
partir da análise de 211 navios
na região do Golfo do México.
Depois, eles extrapolaram os
dados para a frota mundial
-que possui cerca de 100 mil
navios com capacidade de carga maior que 100 toneladas.
Chegaram então a um total
de 900 mil toneladas de material particulado por ano -o tráfego rodoviário global emite 2,1
milhões de toneladas.
"Só porque navios estão no
oceano, longe de onde as pessoas podem vê-los, não significa que não são poluentes. Todos os nossos bens de consumo
vêm da China ou de qualquer
outro lugar em enormes navios
que queimam combustível sujo", disse à Folha Daniel Lack,
cientista da Noaa (agência nacional de atmosfera e oceanos
dos EUA) que liderou o estudo.
Particulados em alta concentração causam e agravam doenças respiratórias e cardiovasculares, daí a importância de seu
estudo na saúde pública. Outro
autor do estudo, James Corbett, da Universidade de Delaware, já havia estimado que a
poluição provocada pelos navios resulta em cerca de 60 mil
mortes prematuras ao ano.
O "poder" das emissões dos
navios se deve ao fato de que
70% da navegação ocorre em
uma área de 400 km e a maior
parte dos portos está rodeada
por grandes populações.
Segundo Lack, os dados mostram que o padrão de combustível usado em navios e o controle de circulação de embarcações deve ser repensado pelas
autoridades mundiais. O principal combustível da navegação
é o chamado óleo pesado, um
sujo derivado do petróleo.
Ativistas da ONG Coalizão
para Antártida e Oceano Austral, por exemplo, já solicitaram à Organização Marítima
Internacional que navios movidos a óleo pesado sejam banidos das águas do continente
antártico. "Os governos precisam considerar os nossos resultados e decidir se, tal como
ocorre em muitos outros setores de transporte, também há
necessidade de mudar as normas de qualidade do combustível", afirmou Lack.
Navegação aquecida
Em relação ao clima, o material particulado tem efeito "resfriador" -porque espalha a radiação ou a absorve.
Mas os navios também contribuem para o aquecimento
global. Um relatório da ONU
(Organização das Nações Unidas) divulgado em 2008 mostrou que emissões de CO2 do setor são de 1,1 bilhão de toneladas -o que corresponde a 4,5%
de todas as emissões provocadas pelas atividades humanas.
Os navios emitem mais desse
gás-estufa que a aviação civil.
Projeções feitas por grupos europeus e pelo IPCC (painel do
clima da ONU) indicam que a
emissão anual dos aviões fica
em torno dos 650 milhões de
toneladas de gás carbônico.
Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, disse esperar
que a contribuição dos navios
seja incluída no próximo acordo de cortes de emissão.
Colaborou EDUARDO GERAQUE ,
da Reportagem Local
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