São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Poluição de barcos é metade da dos carros

Estudo com estimativa global compara marinha mercante ao transporte rodoviário em emissão de fumaça e poeira

Levantamento levou em conta tipo de poluente que prejudica diretamente a qualidade do ar e a saúde de pessoas que o respiram

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os navios comerciais (incluindo os cruzeiros) emitem quantidade de poeira e fumaça equivalente a metade daquela gerada pelo tráfego rodoviário no mundo. O chamado material particulado -que prejudica a qualidade do ar e causa doenças- é proveniente da queima de combustíveis fósseis em carros e caminhões, mas o transporte naval tem um peso da mesma ordem de grandeza no problema, mostra novo estudo. O levantamento, feito por um grupo americano, revela agora a estimativa da contribuição da marinha mercante para a emissão desse poluente a partir da análise de 211 navios na região do Golfo do México. Depois, eles extrapolaram os dados para a frota mundial -que possui cerca de 100 mil navios com capacidade de carga maior que 100 toneladas. Chegaram então a um total de 900 mil toneladas de material particulado por ano -o tráfego rodoviário global emite 2,1 milhões de toneladas. "Só porque navios estão no oceano, longe de onde as pessoas podem vê-los, não significa que não são poluentes. Todos os nossos bens de consumo vêm da China ou de qualquer outro lugar em enormes navios que queimam combustível sujo", disse à Folha Daniel Lack, cientista da Noaa (agência nacional de atmosfera e oceanos dos EUA) que liderou o estudo. Particulados em alta concentração causam e agravam doenças respiratórias e cardiovasculares, daí a importância de seu estudo na saúde pública. Outro autor do estudo, James Corbett, da Universidade de Delaware, já havia estimado que a poluição provocada pelos navios resulta em cerca de 60 mil mortes prematuras ao ano. O "poder" das emissões dos navios se deve ao fato de que 70% da navegação ocorre em uma área de 400 km e a maior parte dos portos está rodeada por grandes populações. Segundo Lack, os dados mostram que o padrão de combustível usado em navios e o controle de circulação de embarcações deve ser repensado pelas autoridades mundiais. O principal combustível da navegação é o chamado óleo pesado, um sujo derivado do petróleo. Ativistas da ONG Coalizão para Antártida e Oceano Austral, por exemplo, já solicitaram à Organização Marítima Internacional que navios movidos a óleo pesado sejam banidos das águas do continente antártico. "Os governos precisam considerar os nossos resultados e decidir se, tal como ocorre em muitos outros setores de transporte, também há necessidade de mudar as normas de qualidade do combustível", afirmou Lack.

Navegação aquecida
Em relação ao clima, o material particulado tem efeito "resfriador" -porque espalha a radiação ou a absorve. Mas os navios também contribuem para o aquecimento global. Um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado em 2008 mostrou que emissões de CO2 do setor são de 1,1 bilhão de toneladas -o que corresponde a 4,5% de todas as emissões provocadas pelas atividades humanas. Os navios emitem mais desse gás-estufa que a aviação civil. Projeções feitas por grupos europeus e pelo IPCC (painel do clima da ONU) indicam que a emissão anual dos aviões fica em torno dos 650 milhões de toneladas de gás carbônico. Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, disse esperar que a contribuição dos navios seja incluída no próximo acordo de cortes de emissão.


Colaborou EDUARDO GERAQUE , da Reportagem Local

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