e da Redação


O fenômeno climático El Niño influenciou importantes fatos históricos, afirmou ontem Richard Grove, pesquisador da Universidade Nacional da Austrália, em uma conferência em Canberra, capital do país.
Segundo Grove, as intensas secas e chuvas associadas ao fenômeno climático interferiram em acontecimentos históricos relevantes (veja quadro ao lado).
O El Niño é o aquecimento anormal das águas superficiais da região centro-oriental do oceano Pacífico, associado a alterações no clima da América, Oceania e Sudeste Asiático, que provocam chuvas intensas em algumas áreas e grandes secas em outras.
O pesquisador australiano afirmou que mesmo a Revolução Francesa, em 1789, teria sido influenciada pelas colheitas prejudicadas por invernos muito frios, primaveras excessivamente chuvosas e verões muito secos no período de 1785 a 1788.
Grove diz que havia na França condições para a Revolução (como crise da monarquia e ascenção das idéias antiabsolutistas), mas que elas foram potencializadas pelo El Niño e seus supostos efeitos na agricultura, com aumento da miséria e da fome.
A influência do El Niño em fatos históricos ocorridos na Europa é posta em dúvida pelo meteorologista brasileiro Carlos Nobre, diretor do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), de Cachoeira Paulista (SP), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Segundo Nobre, não existem evidências científicas de que o El Niño possa ser diretamente associado a mudanças climáticas na Europa nos últimos 500 anos.
A própria relação de causa e efeito atribuída ao El Niño e às alterações climáticas é questionada pelo climatologista Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, professor aposentado do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo.
"O El Niño, que tem sido interpretado como a causa de diversas repercussões climáticas, pode ser apenas uma entre elas, que integram um sistema mais amplo, que inclui até o aumento do calor causado por variações das manchas solares", afirmou Monteiro.



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