São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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TECNOLOGIA

Sistema ajuda deficientes e pretende ser rival do teclado tradicional

Dupla inventa a "digitação ocular"

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a ajuda de um computador, cientistas britânicos inventaram um meio menos doloroso e indigno de fazer algo que antes só era possível mergulhando a cara no teclado: digitar com o olho.
David Ward e David MacKay, ambos do Laboratório Cavendish, em Cambridge, Reino Unido, desenvolveram um programa de computador chamado Dasher. Ele permite que um usuário escreva com velocidade comparável à de um digitador experiente sem usar um teclado.
Graças a um sensor em frente do computador que monitora os movimentos do olho do usuário, é possível escolher uma letra apenas olhando para ela. Para acelerar o processo de digitação, o programa toma as primeiras letras por base para adivinhar quais viriam a seguir, com base no maior ou menor uso de certas palavras.
Embora seu funcionamento não seja facilmente explicável, o inventor afirma que o sistema é absolutamente intuitivo e simples de manusear. "Eu recomendo fortemente que você veja as demonstrações no site do programa para ver exatamente como ele funciona -é bem difícil colocar em palavras", ele diz. Mas os resultados de eficiência, por si mesmos, já dizem um bocado.
"Um digitador típico (mas não profissional) pode escrever de 40 a 70 palavras por minuto. Um usuário do Dasher equipado com um rastreador de movimento ocular pode escrever 25 palavras por minuto. Usando um mouse, ele pode escrever 39 palavras por minuto", diz MacKay, que criou o primeiro protótipo do sistema em 1997. O estado atual do programa está relatado na última edição da "Nature" (www.nature.com).
O principal uso do programa é para deficientes físicos, que por uma razão ou outra são incapazes de escrever com o uso de teclados. Para esse fim, o software já está em uso. "Nosso sistema experimental para PCs já está sendo utilizado por alguns usuários deficientes", conta MacKay.
"Em algumas semanas, estaremos lançando uma versão do Dasher mais amigável ao consumidor. Será gratuita e estará no mesmo site em que o protótipo de pesquisa está disponível. E acho que português estará incluído como uma opção para o próximo lançamento", completa.
O site do Dasher na internet é www.inference.phy.cam.ac.uk/dasher/.

Código aberto
O programa está sendo desenvolvido com seu código aberto. Ou seja, todos podem ter acesso à programação original e modificá-la o quanto quiserem. O processo de criação é o mesmo que popularizou o sistema operacional Linux, que se contrapõe por exemplo ao Windows, da Microsoft, protegido por direitos autorais.
"Nós temos a intenção de desenvolvê-lo como produto", conta MacKay. "Mas acreditamos que o melhor software é o software livre -olhe para o Linux, por exemplo. Esperamos que desse jeito os principais beneficiários -a comunidade deficiente- receba o melhor produto possível."

Aplicações do futuro
Embora o uso mais óbvio seja para deficientes, MacKay acredita que o Dasher possa acabar se tornando parte do cotidiano de todas as pessoas, em aplicações que impeçam o uso das mãos ou de um teclado para digitação.
"Essa era certamente minha esperança, quando eu imaginei o sistema. Talvez cheguemos a esse ponto, se fizermos mais melhorias no modelamento da linguagem e no rastreador ocular", diz. "Talvez em dez anos todo mundo esteja vestindo pequenos computadores na cabeça e usando o Dasher para escrever!"
Por ora, o sistema não é à prova de falhas, mas já é confiável. "A maioria dos erros de digitação é pequena, e muitos deles são por culpa do usuário", afirma MacKay. Nos experimentos relatados na "Nature", os testadores do Dasher sempre cometeram menos erros de digitação que os usuários de um teclado típico.


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