São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2001

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BIOTECNOLOGIA

No México, Greenpeace denuncia contaminação de variedades tradicionais por milho geneticamente alterado

Área de cultivos transgênicos cresce 13%

Reuters
Militantes protestam contra milho transgênicos na frente do Ministério da Agricultura do México


MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA

A batalha de propaganda entre defensores e adversários dos transgênicos rendeu duas notícias de impacto ontem. A favor: a área plantada com cultivares geneticamente modificados cresceu 13% este ano. Contra: variedades tradicionais de milho do México foram contaminadas com DNA de milho transgênico Bt.
A primeira informação partiu do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (Isaaa, na abreviação em inglês), uma entidade ligada à indústria da biotecnologia (www.isaaa.org). Sua estimativa é de que sejam cultivados com plantas transgênicas 50 milhões de hectares em 2001, uma área quase do tamanho da França.
O anúncio do crescimento foi feito pelo Isaaa durante o Segundo Congresso Brasileiro de Biossegurança, que termina hoje em Salvador. Cultivares geneticamente modificados já respondem por cerca de 10% do mercado, segundo comunicado à imprensa da empresa Monsanto.
A Monsanto é a criadora da variedade de soja Roundup Ready, resistente ao herbicida Roundup (glifosato). A soja RR foi aprovada para plantio comercial no Brasil em 1998, mas o parecer da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) foi suspenso pela Justiça Federal. Ainda não há decisão definitiva sobre o caso.
A segunda notícia veio como denúncia, distribuída pela organização não-governamental Greenpeace (www.greenpeace.org.br). Segundo a ONG, testes realizados em 22 comunidades do Estado mexicano de Oaxaca revelaram que em 15 delas o milho continha DNA de variedades transgênicas conhecidas como Bt.
O milho Bt resiste a pragas (como larvas de borboletas) produzindo seu próprio inseticida. Trata-se de uma toxina produzida naturalmente pela bactéria Bacillus thuringiensis (daí o nome Bt), da qual foi retirado o gene transferido para o milho.
A contaminação é preocupante porque o México é uma das principais regiões de diversidade genética do milho. Ou seja, de variedades selvagens que os melhoristas tradicionais utilizam em cruzamentos para aperfeiçoar as plantas. Genes de outras espécies, como o Bt, representariam uma forma de "poluição genética" desse reservatório natural.
Acredita-se que a fonte dos genes foi milho Bt importado dos EUA pela indústria mexicana.


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