São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Cérebro emigrado

Neurocientista que trocou Brasília por Nova York diz que milionários brasileiros precisam abrir a mão e doar para as universidades

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um dos indicativos que a ciência de um país não vai bem é a chamada fuga de cérebros. Estimativa feita pelas Nações Unidas em 2005 mostrou que mais de 40 mil cientistas latino-americanos abandonam anualmente seus países para instalar-se em institutos e universidades de nações ricas. No Brasil, apesar de não haver estatísticas sobre isso, a situação não é diferente.
Baixos salários, dificuldade para conseguir financiamento e o fator atraente de trabalhar em algum lugar no qual seja possível se dedicar 100% à pesquisa foram alguns dos motivos pelos quais o neurocientista Claudio Mello, 44, trocou a Universidade de Brasília pela Universidade Rockefeller.
Logo após se formar em medicina e sem a menor vontade de praticar a profissão, Mello conseguiu uma vaga para fazer o doutorado nos Estados Unidos. "Eu sabia na época que queria fazer pesquisa, mas confesso que não tinha um plano para ficar por aqui", conta.
Quando terminou o doutorado, no entanto, ele consegui um financiamento dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde) para continuar suas pesquisas e resolveu ficar. "Eu não tinha nenhum vínculo com o Brasil e pensava que, se fosse voltar, não poderia me dedicar integralmente à pesquisa. Nas universidades brasileiras o pesquisador tem de reservar um tempo para o ensino e isso realmente não me atraía."
Hoje ele comanda um laboratório na Universidade de Ciência e Saúde do Oregon onde estuda a evolução da vocalização em aves. Passados 19 anos no exterior, ele começa a ver uma chance de fazer pesquisas no Brasil. Seu plano é pesquisar as aves da floresta amazônica em estudos de campo, mas a conclusão do trabalho continuará sendo em seu laboratório no Oregon.
Mello é também um dos idealizadores do Instituto de Neurociência de Natal, junto com Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro (o único dos três que se fixou definitivamente aqui), mas ao menos por enquanto também não pretende trocar Portland pelo Rio Grande do Norte. "Acho que nos Estados Unidos tenho a possibilidade de levar recursos daqui para projetos no Brasil por meio de parcerias com outras instituições brasileiras. Se eu voltar, perco isso."
Sua sugestão para o país é o investimento privado em ciência: "No Brasil, as grandes fortunas deveriam fazer como as americanas. Não dá para deixar tudo na mão do governo." (GG)


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