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Cérebro emigrado
Neurocientista que trocou
Brasília por Nova York diz
que milionários brasileiros
precisam abrir a mão e doar para as universidades
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um dos indicativos
que a ciência de
um país não vai
bem é a chamada
fuga de cérebros.
Estimativa feita pelas Nações
Unidas em 2005 mostrou que
mais de 40 mil cientistas latino-americanos abandonam
anualmente seus países para
instalar-se em institutos e universidades de nações ricas. No
Brasil, apesar de não haver estatísticas sobre isso, a situação
não é diferente.
Baixos salários, dificuldade
para conseguir financiamento
e o fator atraente de trabalhar
em algum lugar no qual seja
possível se dedicar 100% à pesquisa foram alguns dos motivos pelos quais o neurocientista Claudio Mello, 44, trocou a
Universidade de Brasília pela
Universidade Rockefeller.
Logo após se formar em medicina e sem a menor vontade
de praticar a profissão, Mello
conseguiu uma vaga para fazer
o doutorado nos Estados Unidos. "Eu sabia na época que
queria fazer pesquisa, mas confesso que não tinha um plano
para ficar por aqui", conta.
Quando terminou o doutorado, no entanto, ele consegui
um financiamento dos NIH
(Institutos Nacionais de Saúde) para continuar suas pesquisas e resolveu ficar. "Eu não tinha nenhum vínculo com o
Brasil e pensava que, se fosse
voltar, não poderia me dedicar
integralmente à pesquisa. Nas
universidades brasileiras o
pesquisador tem de reservar
um tempo para o ensino e isso
realmente não me atraía."
Hoje ele comanda um laboratório na Universidade de
Ciência e Saúde do Oregon onde estuda a evolução da vocalização em aves. Passados 19
anos no exterior, ele começa a
ver uma chance de fazer pesquisas no Brasil. Seu plano é
pesquisar as aves da floresta
amazônica em estudos de campo, mas a conclusão do trabalho continuará sendo em seu
laboratório no Oregon.
Mello é também um dos
idealizadores do Instituto de
Neurociência de Natal, junto
com Miguel Nicolelis e Sidarta
Ribeiro (o único dos três que se
fixou definitivamente aqui),
mas ao menos por enquanto
também não pretende trocar
Portland pelo Rio Grande do
Norte. "Acho que nos Estados
Unidos tenho a possibilidade
de levar recursos daqui para
projetos no Brasil por meio de
parcerias com outras instituições brasileiras. Se eu voltar,
perco isso."
Sua sugestão para o país é o
investimento privado em ciência: "No Brasil, as grandes fortunas deveriam fazer como as
americanas. Não dá para deixar
tudo na mão do governo."
(GG)
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