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EFEITO ESTUFA
Impasse internacional e virtual queda do governo anfitrião ameaçam reunião sobre combate ao aquecimento
Conferência começa sem clima no Canadá
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Já não eram otimistas as perspectivas para a 11ª COP (Conferência das Partes) da Convenção
do Clima, que reúne a partir de
hoje em Montréal representantes
de 189 países que deveriam decidir o futuro do combate aos gases
de efeito estufa. O debate sobre
como o mundo deve lidar com o
problema a partir de 2012, quando o Protocolo de Kyoto expira, é
ameaçado pelo impasse entre os
EUA -que se recusam a aceitar
metas de redução de emissões- e
a União Européia, favorável a elas.
E a situação só piora hoje, quando o Parlamento do Canadá, país-anfitrião, deve derrubar o governo do premiê Paul Martin, acusado de corrupção. Muitos ministros e parlamentares que deveriam estar na COP estarão se mobilizando para as eleições, que devem ser anunciadas já amanhã.
"Esse é um cenário de pesadelo
que ambientalistas do mundo inteiro esperariam que fosse evitado", disse Elizabeth May, diretora-executiva da ONG verde Sierra
Club no Canadá.
O que está em jogo
A COP-11 é a primeira reunião
dos países signatários da Convenção do Clima da ONU depois da
entrada em vigor, em fevereiro,
do Protocolo de Kyoto.
O acordo determina que, entre
2008 e 2012, os países industrializados reduzam suas emissões de
gases-estufa (em especial o dióxido de carbono, ou CO2) em 5,2%
em relação aos níveis de 1990.
Kyoto quase afundou em 2001,
quando o presidente dos EUA,
George W. Bush, retirou o maior
emissor de CO2 do mundo do tratado, alegando razões econômicas. A UE tomou a frente das negociações e salvou o protocolo,
feito politicamente relevante mas
que na prática não resolve o problema: sem os EUA, que detêm
36% das emissões do mundo desenvolvido, o acordo é inócuo.
A COP de Montréal tem como
objetivo iniciar as negociações para um segundo período de compromisso do protocolo, de 2013 a
2017 ou 2020. O objetivo da UE é
trazer para o tabuleiro tanto os
EUA quanto grandes emissores
do Terceiro Mundo, como Brasil,
China e Índia -dispensados de
reduzir emissões por Kyoto.
Especialistas avaliam que será
uma tarefa difícil de cumprir. Primeiro, porque vários países aumentaram suas emissões de gases-estufa; só no Canadá, esse aumento foi de 57,5% até 2003. O
mundo subdesenvolvido aumentou suas emissões em 9,2%.
"Os europeus talvez introduzam metas maiores, de 10% de reduções até 2020", disse à Folha o
secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, José Goldemberg. Ele deve assinar na próxima
segunda-feira, em Montréal, um
acordo bilateral entre os Estados
de São Paulo e da Califórnia
(EUA) para combater emissões.
Depois, países como Brasil e
China não querem nem ouvir falar em metas. "Os grandes responsáveis [pelo aquecimento global] são os países ricos. Eles assumiram na Convenção do Clima
[em 1992] um compromisso de
reduzir emissões, assim como o
Brasil tem sua dívida externa",
defende o físico Luiz Pinguelli Rosa, secretário-executivo do Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas. "O Brasil não deve ir à negociação com os leões e os lobos
bancando o bobalhão", afirmou.
"MDL do B"
Numa revisão de uma posição
histórica do Itamaraty, no entanto, o Brasil aceitou tocar, em
Montréal, na sua maior ferida climática: as emissões causadas pelo
desmatamento, que representam
dois terços do total nacional.
O país deve apresentar na quarta-feira uma proposta de financiamento internacional para reduzir o desmatamento abaixo de
um dado patamar, possivelmente
gerando créditos negociáveis de
redução de emissões.
Mas diplomacia brasileira, afirmou Pinguelli Rosa, está tomando o cuidado de não incluir a proposta no chamado MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), dispositivo de Kyoto pelo
qual os países pobres geram certificados de redução de emissões
para quem tem metas a cumprir.
Até agora, a posição brasileira
era a de não abordar o chamado
desmatamento evitado -o que,
aliás, será feito pela Costa Rica em
Montréal. Com a nova proposta,
ao mesmo tempo em que reconhece que é preciso fazer alguma
coisa em relação às florestas, o
Brasil se desobriga de uma redução compulsória de emissões.
Com "New York Times"
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