São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 2002

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BIOTECNOLOGIA

Diretora da Clonaid pode vir ao país em abril para estudar possibilidade de criar "fábrica de clones" no RS

Empresa quer abrir uma filial no Brasil

David Friedman/Reuters
Boisselier e Michael Guillen, o físico e jornalista incumbido de verificar a autenticidade do clone


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A empresa Clonaid pretende instalar um de seus laboratórios no Brasil. A diretora da companhia, Brigitte Boisselier, deve visitar o país em abril, para verificar a viabilidade do projeto. Segundo o Movimento Raeliano, a seita ligada à companhia, o objetivo é que o laboratório, a ser instalado possivelmente no Rio Grande do Sul, atenda à demanda por clonagem humana na América do Sul.
Atualmente, a legislação brasileira proíbe a clonagem de forma genérica, assim como certas manipulações genéticas de organismos, por meio da Lei de Biossegurança. Um projeto de lei está atualmente em trâmite no Senado para disciplinar questões especificamente ligadas à clonagem.
"Queremos que tudo isso seja regulamentado", diz David Uzal, representante dos raelianos no Brasil. "Mas não interditado", acrescenta. "Ninguém deveria impedir o avanço da ciência."
Segundo Uzal, a filosofia raeliana estaria intimamente ligada à ciência. "Acreditamos que a ciência é a religião de amanhã", diz. Mas a base das crenças raelianas está longe de oferecer possibilidade real de verificação científica.
Segundo Raël, líder da seita, a vida na Terra teria sido criada por alienígenas. A informação teria sido transmitida a ele pelos próprios extraterrestres responsáveis. Apesar dessa "revelação", não há evidência científica alguma de manipulação artificial nos rumos da vida terrestre ao longo da evolução.
Para os raelianos, a interferência extraterrestre teria permeado todos os eventos religiosos relatados nos textos sagrados de todas as culturas. Jesus Cristo, por exemplo, teria sido ressuscitado por meio de avançadas técnicas de clonagem alienígenas.
E o destino final da humanidade, segundo Raël, seria justamente desenvolver sua ciência e tecnologia a ponto de poder também semear outros planetas com vida.
Para os raelianos, 2002 é o ano 57 d.H. A virada é comemorada todo dia 6 de agosto, a partir da explosão da bomba atômica sobre Hiroshima, em 1945. Segundo a seita, foi nessa data que a humanidade entrou em uma nova fase, ao dominar o poder do átomo.
Para os seguidores de Raël, a vida eterna está ali na esquina -e será atingida via clonagem. "O nascimento do primeiro clone foi só a primeira etapa do processo", explica Uzal. A segunda envolveria a criação de meios de controlar o envelhecimento do clone para fazer com que atingisse a idade física da pessoa clonada. Na terceira e última fase, a memória da pessoa seria transferida para o cérebro do clone. Mas até Uzal admite que isso atualmente está na esfera da ficção científica. Um cruzamento de Aldous Huxley com Mary Shelley, para ser exato.
Atualmente, o Movimento Raeliano diz ser atuante em 83 países e ter cerca de 55 mil seguidores. No Brasil, seriam cerca de 200. A Clonaid, fundada em 1997, tem sede nas Bahamas e afirma ter vários laboratórios ao redor do mundo. Entre os serviços prestados pela companhia estão a clonagem de animais de estimação mortos e a preservação de tecidos para futura clonagem.
Qualquer um pode encomendar seu próprio clone à empresa (www.clonaid.com), se estiver disposto a gastar US$ 200 mil. "Em três anos queremos baixar esse preço para US$ 50 mil." O pacote inclui o serviço completo -inclusive a mulher que servirá de barriga de aluguel.
Enquanto não fica comprovada a autenticidade do primeiro clone humano, parte da comunidade científica segue cética. "A coisa mais assustadora que eles conseguiriam fazer são círculos em plantações", diz Glenn McGee, da Universidade da Pensilvânia.


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