São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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MEDICINA

Estudo indica que pouca proteína durante amamentação pode aumentar em 50% vida de prole de camundongos

Dieta da mãe define longevidade de roedor

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem muita gente por aí se preocupando em seguir dietas equilibradas, na esperança de preservar a própria saúde e viver o máximo que der. Mas pode ser tudo em vão. Segundo dois pesquisadores britânicos, sua sorte já pode ter sido selada antes mesmo de você ter aprendido a pronunciar corretamente a palavra "caloria".
Ao menos é o que sugerem os experimentos realizados com camundongos pela dupla, publicados hoje numa comunicação breve da revista britânica "Nature" (www.nature.com). Susan Ozanne e Nicholas Hales, da Universidade de Cambridge, passaram os últimos três anos acompanhando a vida de seis grupos de 24 roedores, da concepção à morte.
Durante a gestação dos bichinhos, algumas mães tiveram uma dieta normal, com 20% do conteúdo composto por proteínas. Outras tiveram uma dieta restritiva, com 8% de proteínas. Essas duas versões de alimentação, por sua vez, vinham em dois estilos: um "saudável" e outro "fast food", composto por maior taxa de gordura e carboidratos.
As mesmas variações foram repetidas para as mães durante o processo de amamentação dos filhotes. Passada essa fase, a prole passou a ser alimentada com rações, de novo nas duas versões, "saudável" e "fast food". Embora os roedores submetidos à dieta que leva à obesidade tenham vivido em média menos tempo que seus colegas esbeltos, esse foi o fator que menos influiu na longevidade. A dieta da mamãe camundongo pareceu ser muito mais relevante na hora de determinar o quanto a prole iria viver.
Os campeões da terceira idade foram os bichinhos gestados por uma mãe bem alimentada, mas submetidos a restrições durante o período de amamentação. Viveram em média 814 dias quando passaram o resto da vida comendo comida saudável e 807 dias à base de "fast food".
Os dois grupos de controle, submetidos a alimentação normal durante a gestação e a amamentação, viveram menos, em média 765 dias, na versão mais saudável.
Os perdedores, para surpresa geral, foram aqueles que, tendo sido submetidos a restrições durante a gestação, acabaram sendo superalimentados durante a fase da amamentação, para compensar o desenvolvimento uterino deficiente. Na melhor das hipóteses, eles viveram 568 dias, em média.
As implicações dos resultados para humanos ainda não são tão claras, mas, caso se confirmem, podem levar ao desenvolvimento de práticas contra-intuitivas, como evitar a tentativa de compensar o déficit alimentar do feto durante a gestação durante a fase de amamentação -procedimento que levou os camundongos a uma morte precoce.
"Claro que temos de tomar cuidado quando falamos das implicações para humanos -isso obviamente exige mais estudos, para ver se processos similares ocorrem com pessoas-, mas certamente essa seria a implicação. Crianças que tiveram crescimento restringido durante a gravidez e depois foram superalimentadas podem não ser uma coisa boa", afirma Ozanne.
A pesquisadora destaca a importância de prestar atenção à alimentação materna, especialmente durante a fase de amamentação. Ao que parece, é possível conferir à prole boa proteção contra futuros problemas de obesidade simplesmente acertando na dose alimentar durante essa fase.
O que mais assusta, entretanto, é a diferença de idade entre "perdedores" e "vencedores". A dupla de autores descreveu o fato em seu artigo: "Mostramos que pequena manipulação da dieta maternal pode aumentar a expectativa de vida em camundongos em mais de 50%, uma descoberta que pede a atenção nesse aspecto do crescimento e da nutrição humanos. Há, afinal, diferença significativa entre viver para chegar aos 50 anos e atingir a idade de 75".


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