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MEDICINA
Estudo indica que pouca proteína durante amamentação pode aumentar em 50% vida de prole de camundongos
Dieta da mãe define longevidade de roedor
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem muita gente por aí se preocupando em seguir dietas equilibradas, na esperança de preservar
a própria saúde e viver o máximo
que der. Mas pode ser tudo em
vão. Segundo dois pesquisadores
britânicos, sua sorte já pode ter sido selada antes mesmo de você
ter aprendido a pronunciar corretamente a palavra "caloria".
Ao menos é o que sugerem os
experimentos realizados com camundongos pela dupla, publicados hoje numa comunicação breve da revista britânica "Nature"
(www.nature.com). Susan Ozanne e Nicholas Hales, da Universidade de Cambridge, passaram os
últimos três anos acompanhando
a vida de seis grupos de 24 roedores, da concepção à morte.
Durante a gestação dos bichinhos, algumas mães tiveram uma
dieta normal, com 20% do conteúdo composto por proteínas.
Outras tiveram uma dieta restritiva, com 8% de proteínas. Essas
duas versões de alimentação, por
sua vez, vinham em dois estilos:
um "saudável" e outro "fast
food", composto por maior taxa
de gordura e carboidratos.
As mesmas variações foram repetidas para as mães durante o
processo de amamentação dos filhotes. Passada essa fase, a prole
passou a ser alimentada com rações, de novo nas duas versões,
"saudável" e "fast food". Embora
os roedores submetidos à dieta
que leva à obesidade tenham vivido em média menos tempo que
seus colegas esbeltos, esse foi o fator que menos influiu na longevidade. A dieta da mamãe camundongo pareceu ser muito mais relevante na hora de determinar o
quanto a prole iria viver.
Os campeões da terceira idade
foram os bichinhos gestados por
uma mãe bem alimentada, mas
submetidos a restrições durante o
período de amamentação. Viveram em média 814 dias quando
passaram o resto da vida comendo comida saudável e 807 dias à
base de "fast food".
Os dois grupos de controle, submetidos a alimentação normal
durante a gestação e a amamentação, viveram menos, em média
765 dias, na versão mais saudável.
Os perdedores, para surpresa
geral, foram aqueles que, tendo sido submetidos a restrições durante a gestação, acabaram sendo superalimentados durante a fase da
amamentação, para compensar o
desenvolvimento uterino deficiente. Na melhor das hipóteses,
eles viveram 568 dias, em média.
As implicações dos resultados
para humanos ainda não são tão
claras, mas, caso se confirmem,
podem levar ao desenvolvimento
de práticas contra-intuitivas, como evitar a tentativa de compensar o déficit alimentar do feto durante a gestação durante a fase de
amamentação -procedimento
que levou os camundongos a uma
morte precoce.
"Claro que temos de tomar cuidado quando falamos das implicações para humanos -isso obviamente exige mais estudos, para
ver se processos similares ocorrem com pessoas-, mas certamente essa seria a implicação.
Crianças que tiveram crescimento restringido durante a gravidez
e depois foram superalimentadas
podem não ser uma coisa boa",
afirma Ozanne.
A pesquisadora destaca a importância de prestar atenção à alimentação materna, especialmente durante a fase de amamentação. Ao que parece, é possível
conferir à prole boa proteção contra futuros problemas de obesidade simplesmente acertando na
dose alimentar durante essa fase.
O que mais assusta, entretanto,
é a diferença de idade entre "perdedores" e "vencedores". A dupla
de autores descreveu o fato em
seu artigo: "Mostramos que pequena manipulação da dieta maternal pode aumentar a expectativa de vida em camundongos em
mais de 50%, uma descoberta que
pede a atenção nesse aspecto do
crescimento e da nutrição humanos. Há, afinal, diferença significativa entre viver para chegar aos
50 anos e atingir a idade de 75".
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