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Europa planeja pousar sonda em cometa
DA REPORTAGEM LOCAL
O trabalho duro de uma década
de um grupo de cientistas europeus deve ir literalmente pelos
ares em janeiro próximo. Nessa
data, um foguete francês Ariane-5
levará a sonda Rosetta ao espaço,
para uma viagem que culminará
com o primeiro pouso de um artefato humano sobre um cometa.
O trabalho dessa sonda e de sua
contraparte americana, a Stardust, está na outra ponta do espectro da abrangente questão da
origem da vida. Enquanto os
cientistas na Terra tentam recriar
as condições primitivas do planeta em busca da "receita" original
da formação dos ingredientes básicos dos seres vivos, as sondas
tentarão observar o desenrolar
desses eventos naturalmente.
Afinal, os cometas são verdadeiros fósseis do Sistema Solar primitivo, formados na mesma época em que os planetas, mas pouco
modificados desde então. Além
disso, eles são ricos depósitos de
compostos de carbono, a base da
vida tal qual ela é conhecida hoje.
A sonda Rosetta pretende abrir
as portas para a decifração dos
processos que deram origem à vida, da mesma forma que a célebre
pedra que lhe dá nome permitiu a
decifração dos hieróglifos egípcios. Mais do que isso, a Europa
espera com ela recuperar a hegemonia em estudos cometários.
O pontapé inicial para estudos
de cometas in loco foi dado com a
sonda européia Giotto, que em
1986 fez as primeiras imagens de
curta distância do Halley.
"Algumas vezes a ESA apontou
que os cientistas europeus tinham
vantagens em seu conhecimento
dos cometas, comparados aos
cientistas da Nasa. Essa noção
veio principalmente da Giotto",
disse à Folha Uwe Meierhenrich,
um cientista alemão que está envolvido na construção do veículo
de pouso da Rosetta. "Entretanto,
recentemente, em setembro de
2001, cientistas americanos atingiram um nível comparável com a
missão Deep Space-1 e suas imagens do cometa Borrelly."
Agora as duas agências espaciais estão em uma "corrida cometária". A Rosetta já estava sendo planejada pela ESA desde 1993,
mas em 1994 a Nasa surgiu com a
missão Stardust, lançada em 1999.
Ela deve passar pelo cometa
Wild-2 em 2004 e trazer amostras
de sua cauda de volta à Terra em
2006. Quando esse material estiver na mão dos americanos, a Rosetta ainda estará na metade da
sua viagem rumo ao cometa 46P/
Wirtanen.
O que não quer dizer que a corrida entre europeus e americanos
esteja decidida. "Com relação a
resultados científicos, haverá considerável competição entre as
duas equipes", diz Meierhenrich.
Segundo ele, a ESA tem um
trunfo na manga -vai aterrissar
sua nave lá para tomar medições
do astro, coisa que os americanos
não farão. "Ainda estamos convencidos de que a medição in situ
do núcleo do cometa pela Rosetta
nos dá vantagens, comparada à
missão de retorno de amostras."
Apesar de a missão ter encontros programados com asteróides
e com Marte, o que deve render
imagens espetaculares, a vida é
sua principal razão de ser. Pelo
menos nas palavras de Wolfram
Thiemann, outro membro da
equipe da Rosetta. "Uma das
questões intrigantes sempre foi de
onde começou a vida terrestre. A
Rosetta pode contribuir para responder a isso", afirmou. "No caso
de aminoácidos abundantes serem descobertos no cometa, teríamos um bom cenário para entender em grande parte, senão totalmente, que os elementos construtores da vida foram importados."
A questão dos aminoácidos canhotos também deve ser estudada pela sonda. "Esperamos obter informações cruciais sobre processos de
evolução química ao verificar as
proporções entre aminoácidos
canhotos e destros nas amostras
de um cometa", diz Meierhenrich.
(SN)
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