|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIOQUÍMICA
Cientistas descobrem mecanismo que faz insetos acender e apagar
Vaga-lume pisca à base de "Viagra"
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores descobriram o
interruptor que faz a lanterna do
vaga-lume acender e apagar. É o
óxido nítrico, a substância que está por trás do Viagra, o famoso remédio contra impotência.
O óxido nítrico -molécula formada por um átomo de nitrogênio e um de oxigênio- tem o papel de "sinalizador" entre células e
é capaz de dilatar vasos sanguíneos. Isso permite relaxar as artérias do pênis, causando um fluxo
de sangue no tecido cavernoso do
órgão genital masculino que o
torna ereto. O Viagra potencializa
a ação do óxido nítrico.
Já no vaga-lume o papel da
substância em relação ao sexo é
mais indireto. O piscar desse inseto é parte do ritual de atração sexual. Cada espécie usa um padrão
específico de piscadas.
Os cientistas já conheciam a origem da luz, uma reação química
no abdome do animal envolvendo as substâncias luciferina e luciferase na presença de oxigênio.
A dúvida até agora era saber como a luz acendia e apagava. As
substâncias luminescentes ficam
em células especializadas, os "fotócitos". Mas os terminais nervosos que controlam o piscar não
chegam até as células.
Sem apagão
Barry A. Trimmer, da Universidade Tufts, em Maryland, Costa
Leste dos EUA, resolveu investigar se haveria um papel para o
óxido nítrico no processo, pois as
células do vaga-lume eram parecidas com outras que ele sabia estarem envolvidas com a substância em outros bichos.
Entre outros experimentos, os
pesquisadores colocaram os vaga-lumes em recipientes contendo o óxido nítrico na forma de
gás. O resultado eliminou o apagão entre os vaga-lumes, que ficaram acesos todo o tempo.
A pesquisa, assinada por oito
cientistas, está na edição de hoje
da revista científica norte-americana "Science".
Trimmer e colegas imaginam
que o óxido nítrico bloqueie o
oxigênio da respiração das mitocôndrias, pequenas estruturas
produtoras de energia nas células.
O oxigênio fica, então, disponível
para a produção de luz pela dupla
luciferina/luciferase.
Esse bloqueio não chega a prejudicar as células, disse Trimmer
à Folha. "A inibição do oxigênio
da mitocôndria é muito curta, as
piscadas têm em média apenas
200 milésimos de segundo".
De qualquer modo, diz ele, as
piscadas do vaga-lume são uma
forma de "seleção sexual", segundo a teoria da evolução darwiniana, "que explica traços que as espécies têm que aparentemente
prejudicariam a sobrevivência,
como a cauda do pavão".
A piscada do vaga-lume pode
atrair não só fêmeas, como também predadores -ou cientistas,
pois Trimmer e seus colegas tiveram que caçar os insetos nos campos em torno da universidade.
Texto Anterior: Transgênicos: CTNBio quer o apoio da sociedade Próximo Texto: Panorâmica - Astronomia: Hubble detecta planetas livres no espaço Índice
|