São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2001

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BIOQUÍMICA

Cientistas descobrem mecanismo que faz insetos acender e apagar

Vaga-lume pisca à base de "Viagra"

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores descobriram o interruptor que faz a lanterna do vaga-lume acender e apagar. É o óxido nítrico, a substância que está por trás do Viagra, o famoso remédio contra impotência.
O óxido nítrico -molécula formada por um átomo de nitrogênio e um de oxigênio- tem o papel de "sinalizador" entre células e é capaz de dilatar vasos sanguíneos. Isso permite relaxar as artérias do pênis, causando um fluxo de sangue no tecido cavernoso do órgão genital masculino que o torna ereto. O Viagra potencializa a ação do óxido nítrico.
Já no vaga-lume o papel da substância em relação ao sexo é mais indireto. O piscar desse inseto é parte do ritual de atração sexual. Cada espécie usa um padrão específico de piscadas.
Os cientistas já conheciam a origem da luz, uma reação química no abdome do animal envolvendo as substâncias luciferina e luciferase na presença de oxigênio.
A dúvida até agora era saber como a luz acendia e apagava. As substâncias luminescentes ficam em células especializadas, os "fotócitos". Mas os terminais nervosos que controlam o piscar não chegam até as células.

Sem apagão
Barry A. Trimmer, da Universidade Tufts, em Maryland, Costa Leste dos EUA, resolveu investigar se haveria um papel para o óxido nítrico no processo, pois as células do vaga-lume eram parecidas com outras que ele sabia estarem envolvidas com a substância em outros bichos.
Entre outros experimentos, os pesquisadores colocaram os vaga-lumes em recipientes contendo o óxido nítrico na forma de gás. O resultado eliminou o apagão entre os vaga-lumes, que ficaram acesos todo o tempo.
A pesquisa, assinada por oito cientistas, está na edição de hoje da revista científica norte-americana "Science".
Trimmer e colegas imaginam que o óxido nítrico bloqueie o oxigênio da respiração das mitocôndrias, pequenas estruturas produtoras de energia nas células. O oxigênio fica, então, disponível para a produção de luz pela dupla luciferina/luciferase.
Esse bloqueio não chega a prejudicar as células, disse Trimmer à Folha. "A inibição do oxigênio da mitocôndria é muito curta, as piscadas têm em média apenas 200 milésimos de segundo".
De qualquer modo, diz ele, as piscadas do vaga-lume são uma forma de "seleção sexual", segundo a teoria da evolução darwiniana, "que explica traços que as espécies têm que aparentemente prejudicariam a sobrevivência, como a cauda do pavão".
A piscada do vaga-lume pode atrair não só fêmeas, como também predadores -ou cientistas, pois Trimmer e seus colegas tiveram que caçar os insetos nos campos em torno da universidade.


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