|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUÍMICA
Método pode facilitar a produção do "combustível do futuro", que tem mais eficiência e evita problemas ambientais
Grupo obtém hidrogênio a partir de açúcar
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem iria querer transformar qualquer coisa em ouro se pudesse converter açúcar em hidrogênio puro? Um trio de engenheiros químicos da Universidade de
Wisconsin, nos EUA, diz ter esse "toque de Midas" da era moderna, um meio de produzir o combustível com potencial para resgatar a humanidade de sua dependência do petróleo usando nada mais que biomassa.
Há tempos o hidrogênio promete uma revolução na produção
e distribuição de energia. O problema é a sua obtenção, já que ele
não está disponível naturalmente
em forma pura (a não ser que alguém pretenda fazer uma visita
ao Sol ou a alguma nebulosa).
A forma mais óbvia de obter hidrogênio é a partir de água, composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Aplica-se
eletricidade e a molécula é quebrada, resultando em hidrogênio
(H2) e oxigênio (O2).
Mas já diz o ditado, "quando a
esmola é muita, o santo desconfia". Gasta-se mais energia criando o hidrogênio do que ele pode
fornecer depois, ao ser utilizado.
Uma alternativa mais barata e
eficiente é obter hidrogênio quebrando as moléculas de hidrocarbonetos que compõem os combustíveis fósseis. Mas isso emite
um monte de gás carbônico e outros gases-estufa, além de sustentar a dependência do petróleo.
Em suma, não resolve nada.
É nesse contexto que entra a
inovação de Wisconsin, relatada
na edição de hoje da revista "Nature" (www.nature.com). Usando um catalisador (substância
que acelera uma reação química)
de platina, eles conseguiram colocar de um lado glicose e obter de
outro hidrogênio, gás carbônico e
pequenas quantidades de metano. Até aí, nada demais, pode-se
concluir, pois continua a emissão
de gás carbônico e do terrível metano (um gás-estufa ainda mais
poderoso que o CO2).
Acontece que não é bem assim.
"A geração de hidrogênio é amigável para o ambiente", justifica
James Dumesic, um dos criadores
da nova técnica. "O dióxido de
carbono é emitido, mas a biomassa de plantas que foram cultivadas para a produção de hidrogênio vai armazenar o gás carbônico
liberado no ano anterior."
O princípio é o mesmo que justifica a produção de carros a álcool. Usa-se cana para produzir
etanol, emite-se gás carbônico,
mas a plantação que no ano seguinte vai fazer mais etanol absorve gás carbônico por fotossíntese,
criando um ciclo equilibrado.
"Quanto ao metano", continua
Dumesic, "esperamos que ele seja
queimado para produzir o calor
que alimentaria o reator. Ele não
seria liberado na atmosfera."
A grande pergunta que fica é: se
o álcool já serve tão bem como
combustível limpo e renovável,
para que investir em hidrogênio?
Dumesic também tem a resposta
para isso. "O etanol é obtido pela
fermentação de açúcares específicos, como glicose. Esperamos que
nossa técnica opere em açúcares
que são difíceis de converter por
fermentação. Conversão de biomassa em etanol e em H2 pode ser
uma boa combinação."
Texto Anterior: Pós-fogo Próximo Texto: Fomento: Crise no CNPq afeta custeio de pesquisas Índice
|