São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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FOMENTO

Crise no CNPq afeta custeio de pesquisas

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com equipamentos já pagos presos na alfândega por falta de verba para retirá-los, Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) da Bahia, desabafa: "Nossa rede está se esfarelando". Santos é um dos cientistas afetados pela crise no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Desde abril, a entidade não repassa quase recursos para o custeio de pesquisas.
O CNPq, principal agência de fomento à pesquisa do país, teve 45% de seu orçamento previsto para este ano cortado pelo governo federal. Embora o pagamento de bolsas de iniciação científica (para estudantes universitários) e de mestrado e doutorado continue, o apoio a grupos de pesquisa está quase paralisado.
"A situação é de pré-falência", diz José Roberto Leite, presidente da SBF (Sociedade Brasileira de Física) e pesquisador da USP. Leite e seus colegas apontam como principais problemas os cortes no Pronex (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência, que abrange 206 grupos no país) e nos Institutos do Milênio (15 redes de pesquisa de âmbito nacional, com dezenas de grupos cada uma).
Além disso, o chamado fluxo contínuo -usado por grupos individuais para cobrir despesas como viagens de intercâmbio ao exterior, realização de eventos científicos ou bolsas de pós-doutoramento- também foi interrompido, de acordo com Leite.
"Estamos a zero", diz o pesquisador. "É uma situação que nunca tínhamos vivenciado desde a fundação do CNPq, com a impossibilidade total de que ele cumpra suas finalidades mais básicas", afirma. Os líderes de 98 grupos de pesquisa ligados ao Pronex assinaram nesta semana uma carta aberta ao presidente da República, pedindo providências.
Glaci Zancan, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), chegou a discutir o problema com o presidente Fernando Henrique Cardoso no dia 9 deste mês. "Ele disse que faria o possível", afirmou Zancan.
"Estão tentando manter o sistema hibernando, mas mesmo para hibernar é preciso mais do que está sendo liberado agora", diz a pesquisadora, para quem cerca de R$ 120 milhões seriam necessários imediatamente para evitar um colapso no futuro próximo.
Para Leite, o que falta é sensibilidade no Ministério do Planejamento, responsável pelos repasses ao Ministério da Ciência e Tecnologia e ao CNPq: "Eu sou testemunha dos esforços do CNPq para que a situação volte ao normal", afirma.
O presidente do CNPq, Esper Cavalheiro, afirmou que está "acompanhando o movimento da comunidade científica" e procurando viabilizar a liberação dos recursos.
Enquanto isso, pesquisadores do Pronex se vêem sem opções. "Nenhuma liberação correspondente a este ano foi feita", diz Jerson Silva, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).


Colaborou a Sucursal de Brasília


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