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FARMACOLOGIA
Molécula é a primeira a ser patenteada no país como um medicamento; droga deve chegar em três anos
Equipe cria antiinflamatório brasileiro
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pesquisadores brasileiros já estão aprendendo o que é bom para
a tosse. Mas só se ela for acompanhada de inflamação. Uma equipe da USP está muito próxima de
desenvolver o primeiro antiinflamatório 100% brasileiro.
O novo medicamento funciona
de maneira semelhante aos equivalentes hoje no mercado, mas
com um diferencial: traz menos
efeitos colaterais. "A grande vantagem é a boa tolerância gástrica à
nossa molécula", afirma Gilberto
de Nucci, professor do Instituto
de Ciências Biomédicas da USP
que está desenvolvendo o projeto.
As drogas desenvolvidas para
essa função normalmente agem
inibindo a atividade de duas proteínas, as enzimas COX 1 e COX 2.
Quando há uma lesão, o organismo libera uma substância, o
ácido araquidônico. A COX 1 age
nesse ácido, transformando-o em
prostaglandina, substância que
aumenta a sensibilidade no local
lesado, causando inflamação.
Reagindo a esse estado, surge a
COX 2. Sua resposta é dada na
forma de dores, edemas (acúmulo
de líquido na região) e inchaços.
Embora as COX pareçam ser, à
primeira vista, inimigas declaradas do bem-estar do cidadão, a
verdade é que elas também têm
funções importantes no organismo, como a manutenção da coagulação sanguínea e da proteção
da parede do estômago contra a
acidez excessiva.
O estudo, que começou há um
ano e meio, é financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo),
responsável por 70% dos custos, e
pela empresa farmacêutica Aché.
Até agora foram gastos US$ 525
mil; a perspectiva é de que o custo
final chegue a US$ 5 milhões.
Atualmente, a droga já foi testada em camundongos e em culturas de células humanas em laboratório. Um estudo com cães deverá ser iniciado nos próximos
dias. No ano que vem, se tudo correr bem, começam os primeiros
testes com seres humanos. A previsão para que o antiinflamatório
esteja no mercado é de três anos.
Engenharia molecular
Os pesquisadores criaram a
droga a partir de uma molécula já
conhecida -a parselmida-, que
servia como base de um antiinflamatório europeu que era utilizado há cerca de dez anos.
"A parselmida foi escolhida
porque verificou-se que era possível inserir elementos que queríamos em sua estrutura durante o
processo de síntese", diz Nucci.
Segundo o pesquisador, os resultados são inéditos. "Até onde
eu sei, é a primeira molécula desenvolvida no Brasil passível de
ser patenteada como medicamento", afirma.
A patente, feita apenas em nome do laboratório Aché, foi depositada em agosto. O Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) cumpre agora o processo de avaliar o mérito do pedido,
fase que leva de um a dois anos.
O registro não foi feito também
em nome da universidade porque
não existe uma regulamentação
clara de como deveriam ser feitos
pedidos de patente em nome da
USP. Como o prazo para o requerimento -até um ano após a divulgação da descoberta- estava
expirando, a empresa decidiu por
pedir a patente sozinha.
Isso não quer dizer que a USP
não vá ganhar nada. O contrato
de exploração da patente deve
prever que 5% dos royalties sejam
destinados à instituição. Devido
aos problemas de regulamentação, o contrato ainda não foi assinado. "É a "burrocracia", com uns
três ou quatro erres", diz Nucci.
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