São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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MEDICINA
Evolução de tumor é acompanhada com radioisótopo; procedimento foi aplicado em crianças com tumor no osso
Centro introduz método para observar câncer infantil

Marcos Peron - 10.jun.99/Folha Imagem
Salo do Centro Infantil Boldrini, especializado em câncer infantil


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Um centro de tratamento de câncer infantil em Campinas acaba de introduzir um novo método para saber se um tumor sob quimioterapia está diminuindo. Ele se baseia no composto Sestamibi-Tc99m e está sendo utilizado no Centro Infantil Boldrini.
Trata-se de uma alternativa à biopsia (retirada de tecido afetado para análise), um procedimento considerado invasivo. Para contornar a dificuldade, o ideal é ter uma maneira de monitorar a evolução da terapia com algum tipo de "microscópio". Algo como um composto que emita uma "luz" sempre que o tumor estiver em ação -como o Sestamibi-Tc99m.
Segundo Sidnei Epelman, coordenador do Departamento de Oncologia da instituição, o método por ele aplicado é não-invasivo e barato. "É uma técnica factível no dia-a-dia", afirma.
O monitoramento do tumor é feito por meio de um radioisótopo (elemento químico que emite radiação) chamado tecnécio 99m. O Sestamibi é uma molécula que, quando injetada, circula principalmente nos tecidos com tumor. Quando o tecnécio radiativo é ligado ao Sestamibi, tem-se a "luzinha" sinalizadora do tumor.
O Sestamibi radiativo é fabricado no Brasil exclusivamente pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), em São Paulo, e distribuído para todo o país. "Importamos um kit com a molécula. O que fazemos aqui é produzir o Tc99m e adicioná-lo ao Sestamibi", afirma Jair Mengatti, chefe do setor de produção de radiofármacos do instituto.
O marcador estudado por Epelman tem uma vantagem em comparação a seus congêneres. Ele está relacionado com os mecanismos de resistência do tumor. "Cerca de 70% dos tumores não respondem à quimioterapia", afirma o médico oncologista.
Caso o tumor resista ao tratamento, o marcador continuará circulando no tecido doente, sinalizando a ineficácia do procedimento. Quanto mais cedo se souber que a terapia não está fazendo efeito, melhor para o paciente. "Esse marcador ajudará aqueles 30% que resistem ao tratamento."
Epelman estudou 23 crianças com osteossarcoma, tipo mais comum de câncer infantil de osso. A evolução do tratamento foi monitorada com o Sestamibi radiativo. Em 84% dos casos, os resultados observados com o marcador foram confirmados com biopsia. O trabalho será apresentado em outubro na Holanda.
(LUCIANO GRÜDTNER BURATTO)



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