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Altruísmo fez
época no debate
da sociobiologia
MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA
O comportamento altruísta é
uma das velhas e polêmicas
questões da teoria da evolução,
em particular do debate desencadeado pela sociobiologia em
meados dos anos 70.
Sociobiólogos como Edward
O. Wilson, da Universidade
Harvard, defendem que comportamentos fazem parte da
hereditariedade das espécies
animais. Portanto, também sofreriam seleção natural.
Dito de outro modo: se um
comportamento prevalece, é
porque já representou uma
vantagem evolutiva para aquela espécie e os genes relacionados com ele foram transmitidos às novas gerações.
Ora, sobreviver e reproduzir-se são objetivos obviamente
não-altruístas. Numa visão extrema como a de Richard Dawkins no livro "O Gene Egoísta",
indivíduos não passariam de
máquinas descartáveis construídas pelos genes para reproduzirem-se a si próprios.
Cuidar da própria prole só faria sentido, desse ângulo, porque metade dos genes do filhote provém de um dos pais. Valeria a pena ceder parte dos recursos até mesmo para sobrinhos e outros parentes, pela
probabilidade de que sua sobrevivência perpetuasse alguns
genes partilhados em razão da
ancestralidade comum.
Esse gênero de argumento ficou conhecido como seleção
por parentesco ("kin selection", em inglês). Variantes
suas serviriam para explicar
comportamentos "altruístas"
como a renúncia à reprodução
e a preferência pelo mesmo sexo. Daí à busca do "gene da homossexualidade" foi um passo,
tão curto quanto polêmico.
Esse tipo de determinismo
genético vem perdendo força
desde então. O próprio Wilson,
em seus últimos livros, tornou
mais complexas suas interpretações, recorrendo ao que chama de fatores epigenéticos e de
co-evolução de genes e cultura.
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