São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2001

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Altruísmo fez época no debate da sociobiologia

MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA

O comportamento altruísta é uma das velhas e polêmicas questões da teoria da evolução, em particular do debate desencadeado pela sociobiologia em meados dos anos 70.
Sociobiólogos como Edward O. Wilson, da Universidade Harvard, defendem que comportamentos fazem parte da hereditariedade das espécies animais. Portanto, também sofreriam seleção natural.
Dito de outro modo: se um comportamento prevalece, é porque já representou uma vantagem evolutiva para aquela espécie e os genes relacionados com ele foram transmitidos às novas gerações.
Ora, sobreviver e reproduzir-se são objetivos obviamente não-altruístas. Numa visão extrema como a de Richard Dawkins no livro "O Gene Egoísta", indivíduos não passariam de máquinas descartáveis construídas pelos genes para reproduzirem-se a si próprios.
Cuidar da própria prole só faria sentido, desse ângulo, porque metade dos genes do filhote provém de um dos pais. Valeria a pena ceder parte dos recursos até mesmo para sobrinhos e outros parentes, pela probabilidade de que sua sobrevivência perpetuasse alguns genes partilhados em razão da ancestralidade comum.
Esse gênero de argumento ficou conhecido como seleção por parentesco ("kin selection", em inglês). Variantes suas serviriam para explicar comportamentos "altruístas" como a renúncia à reprodução e a preferência pelo mesmo sexo. Daí à busca do "gene da homossexualidade" foi um passo, tão curto quanto polêmico.
Esse tipo de determinismo genético vem perdendo força desde então. O próprio Wilson, em seus últimos livros, tornou mais complexas suas interpretações, recorrendo ao que chama de fatores epigenéticos e de co-evolução de genes e cultura.


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