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Brasil vai acelerar monitoramento de CO2
Rede de pesquisa fará cálculo de emissões de gases-estufa pelo país, tarefa que antes era encomendada por ministério
Inventário atual, porém, não ficará pronto a tempo para a conferência que vai negociar novo acordo global do clima, em dezembro
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir de 2010, o documento que detalha a emissão de gases do efeito estufa pelo Brasil
deverá sair com mais frequência e ser mais transparente. O
levantamento mais completo já
feito sobre o tema, porém, não
ficará pronto para a COP-15 -a
conferência do clima de Copenhague, em dezembro, que negociará o novo tratado de combate ao aquecimento global.
O inventário brasileiro de
emissões de gases do efeito estufa, atribuição hoje do MCT
(Ministério da Ciência e Tecnologia), é um documento
compulsório que o Brasil precisa entregar como membro da
UNFCCC, a convenção do clima das Nações Unidas. O relatório atual, que está nos estágios finais de produção, deve
cobrir todas as fontes de emissões brasileiras -indústria,
agricultura, energia, desmatamento etc.- de 1990 a 2000.
"As pessoas dizem que é preciso ter inventário para a COP-15, mas a COP-15 não tem discussão de inventário", diz José
Miguez, coordenador-geral de
Mudança Global do Clima do
MCT. A pressa em ter um documento a ser mostrado em Copenhague -que parte de cientistas e ambientalistas- pode
comprometer a qualidade do
relatório, diz o engenheiro.
Analista de pesquisa da Petrobras cedido ao MCT desde
1994, Miguez é, há quatro governos, o principal formulador
da política brasileira de clima.
Ele é atacado por ambientalistas pelas posições do Brasil na
área, consideradas retrógradas.
Em entrevista à Folha, Miguez criticou a iniciativa do Ministério do Meio Ambiente de
produzir um relatório informal
estimando o perfil brasileiro de
emissões até 2008. O levantamento apontou que a recente
queda no desmatamento teve
um efeito bom, mas mostrou
que a produção de energia no
país se tornou 30% mais suja.
"Esse inventário [do MMA]
não tem nenhuma confiabilidade", diz o cientista. "O inventário do Brasil quem faz é o
MCT. Nós temos o prazo até o
ano que vem para apresentar,
podendo atrasar um ano."
Segundo Miguez, o dado do
Meio Ambiente é impreciso
porque não inclui a adoção de
medidas do chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. "No setor químico, a gente
já está com emissão zero de
N2O [um dos gases-estufa], e
eles não colocaram."
Segundo Miguez, a necessidade de tempo para o inventário é questão de qualidade, e
não uma estratégia do Brasil de
esconder informação para ganhar poder de negociação.
Transparência
Os dados que são usados no
documento, de um jeito ou de
outro, ganharão mais transparência a partir do ano que vem.
Em uma decisão já confirmada
pelo ministro Sergio Rezende
(Ciência e Tecnologia), a coleta
da maior parte dos dados usados no inventário será feita pela Rede-Clima, um consórcio
federal de pesquisa criado em
2007, que promete disponibilizar seus dados na Internet.
Segundo Carlos Nobre, climatólogo do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais), que lidera a iniciativa,
pesquisas que precisavam antes ser encomendadas pelo
MCT serão feitas regularmente
agora por instituições da rede.
A Embrapa será encarregada
de contar as emissões no setor
agrícola, a UFRJ no setor de
energia, o Inpe no desmatamento e a Cetesb no manejo de
resíduos. Todos os dados serão
divulgados assim que estiverem revisados, diz Nobre.
"Precisamos parar com esse
negócio de o inventário ser um
produto em si próprio, uma letra morta", diz. Ele nega, porém, que a entrada da Rede-Clima seja uma ruptura com a política do MCT. "Não vamos
reinventar a roda, mas aproveitar o que já foi feito", diz. Para
Rezende, o inventário será
"mais rápido e mais confiável"
por envolver mais cientistas.
Nobre estima que será possível o Brasil recolher dados suficientes para relatar suas emissões de modo completo à
UNFCCC a cada três anos,
mesmo que isso não seja compulsório. A atribuição de formatar o relatório para a convenção, porém, continua com o
MCT, que produziu dois inventários num espaço de 15 anos.
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