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Periscópio
A dispersão dos continentes
José Reis
especial para a Folha
Durante séculos acreditou-se que a
distribuição das terras e dos oceanos houvesse permanecido constante ao
longo do tempo. Para explicar a presença
de floras e faunas iguais em continentes
distintos apelava-se para a existência de
pontes submarinas entre eles.
O primeiro sério opositor dessa ortodoxia foi Alfred Wegener, que no começo deste século elaborou, baseado em
numerosos indícios, a hipótese da migração continental, segundo a qual os
continentes se moviam, rachando-se em
algumas regiões e colidindo noutras. Teria havido um primitivo supercontinente, Pangéia, que teria começado a dividir-se no fim da Era Mesozóica, entre 225 e
64 milhões de anos atrás. Seus componentes separaram-se em épocas diferentes: primeiro a América do Sul e a África,
a América do Norte e a Europa. Depois o
Oceano Índico principiou a abrir-se. A
seguir a Austrália e a Nova Guiné se afastaram da Antártida e assim por diante.
A hipótese de Wegener foi rejeitada pelos geólogos e geofísicos, e somente nas
três últimas décadas a grande massa desses especialistas aceitou a movimentação
dos continentes. Hoje costuma-se discutir essa mobilidade lateral em termos da
abrangente teoria tectônica de placas,
envolvendo tanto terras quanto mares.
Os estudiosos admitem hoje que antes
da Pangéia houve outros supercontinentes, que se formaram diversas vezes na
história da Terra e depois se desintegraram. Há quem entenda que esse processo de separação e união das terras é cíclico, calculando-se 400 milhões de anos
para o ciclo todo.
Recentemente apareceram dois trabalhos sobre o aspecto da face da Terra há
cerca de 600 milhões de anos. Um deles
foi apresentado por Ian Delaiel, da Universidade do Texas, e Eldridge Moores,
da Universidade da Califórnia em Davis.
Esses geofísicos basearam-se principalmente no encontro, no mar de Weddell
(Antártida), de uma antiga formação rochosa conhecida como cinturão de
Granville, que, partindo do norte do Canadá, corre ao longo da costa oriental
dos Estados Unidos e, a seguir, mergulha
e perde-se de vista no sudeste do Texas.
Essa conexão geológica, associada a observações paleomagnéticas, sugere que a
Antártida e a Austrália teriam sido empurradas contra a costa ocidental da
América do Norte no fim do Período
Pré-Cambriano (entre 1 bilhão e 570 milhões de anos atrás), como parte de um
bloco supercontinental que englobava
ainda a África e a América do Sul. Há 570
milhões de anos o atual Pólo Sul estaria
provavelmente a 1.500 km do local onde
hoje se encontra Las Vegas.
Por sua vez, Paul Hoffman, do Geological Survey do Canadá, em Ottawa, pesquisou a posição dos continentes há 500
milhões e 700 milhões de anos ("Science", 252, 1.409). Segundo vários especialistas, a maioria dos continentes antes
daquele tempo estava reunida num supercontinente composto por: América
do Norte e Groenlândia (Laurentia), o
escudo báltico e a plataforma russa (Baltea), a Sibéria, partes da África, Austrália,
América do Sul e Antártida. Mais tarde a
América do Sul, a África, a Arábia, a Índia, a Antártida e a Austrália teriam formado outro supercontinente, Gondwana, do qual existem provas geológicas.
Hoffman procurou imaginar a disposição das massas continentais e concluiu
que, na mudança do primeiro para o segundo supercontinente, houve uma espécie de virada ao avesso, de maneira
que a Laurentia, parte central há 700 milhões de anos, foi expelida do conjunto
há 500 milhões de anos. Os fragmentos
continentais em torno do bordo do primeiro conjunto começaram a separar-se
da parte central, rodaram e novamente
se uniram, dando origem a Gondwana.
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