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BIOLOGIA
Estudo britânico pode levar a inseto transgênico
Mosquito que aguenta inseticidas também pode resistir a parasitas
RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em pelo menos um caso, a resistência a inseticida de um mosquito transmissor de doença tropical
está sendo útil para seres humanos. Pesquisa feita no Sri Lanka
demonstrou que o mecanismo
que causa resistência a inseticida
também faz com que mosquitos
transmitam menos a filaríase
(doença causada por vermes que
atacam o aparelho circulatório,
principalmente vasos linfáticos).
O estudo foi feito por Janet Hemingway, da Universidade de
Cardiff (Reino Unido), e mais cinco colegas, incluindo pesquisadores do Sri Lanka. Está publicado
na última edição da revista científica britânica "Nature".
Eles testaram a capacidade de
resistência a inseticida do vetor da
doença, o mosquito da espécie
Culex quinquefasciatus (um "primo" do pernilongo), encontrado
nas casas de doentes de filaríase.
Foram coletadas fêmeas do
mosquito (o macho não se alimenta de sangue). Em seguida,
elas foram congeladas por 48 horas, depois de terem picado alguém. O objetivo era testar a
quantidade de parasitas, as filárias da espécie Wucheria bancrofti -a mesma causadora da
doença no Brasil-, e também
verificar a presença do mecanismo de resistência.
Esse mecanismo usa enzimas
esterases (enzimas são substâncias que aceleram reações bioquímicas). Pode ser comparado a
uma esponja que absorve o inseticida antes que afete o mosquito.
Segundo disse Hemingway à
Folha, o mecanismo "vai, muito
lentamente, destoxificando o inseticida e liberando um produto
não-tóxico". Os pesquisadores
descobriram que, quanto maior
era a atividade bioquímica vinculada à resistência, menor era a
quantidade de parasitas no mosquito. Não se sabe ainda como o
mecanismo afeta o parasita.
A hipótese de Hemingway é que
os altos níveis de esterase mudem
o potencial elétrico da reação química, "afetando (com isso) a capacidade do parasita de se desenvolver e permitindo que a imunidade natural do inseto tenha tempo de neutralizá-lo".
Esses estudos são a pesquisa básica necessária para encontrar
uma forma de tornar o mosquito
refratário a parasitas. "Nós poderemos ser capazes de usar o princípio para produzir insetos resistentes ao parasita, mas vulneráveis a inseticidas, a longo prazo",
diz Hemingway.
O prazo é necessariamente longo, porque a criação de mosquitos transgênicos envolve questões
éticas e científicas. Em particular,
a possibilidade de passar os genes
antiparasitas a populações selvagens, tornando-as resistentes.
Em alguns casos a natureza pode ajudar, por meio do processo
de seleção natural darwiniana dos
organismos mais aptos, pois as filárias também são prejudiciais
aos mosquitos.
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