São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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Sonda mostra por que Vênus é seco, quente e sem vida

Espaçonave européia Venus Express revela como o planeta perdeu seus oceanos e traz prova de que existem raios lá

Orbitadora lançada em 2005 traz dados novos e confirma teorias elaboradas a partir de dados da Pioneer, da Nasa, colhidos em 1978

DA REDAÇÃO

Uma série de novas descobertas baseadas em dados da sonda espacial Venus Express, da Agência Espacial Européia, deve ajudar a explicar como um planeta tão próximo da Terra apresenta condições tão diferentes. Uma série de estudos publicados hoje na revista "Nature" (www.nature.com) confirmam que Vênus possuía, em um passado distante, grandes oceanos de água -perdidos em razão de um efeito-estufa desenfreado- e apresentam a primeira evidência de raios na atmosfera do planeta.
"À luz dos dados novos, é possível construir um cenário no qual os climas de Vênus e da Terra eram muito semelhantes quando eles nasceram e depois evoluíram para o estado que vemos agora, como gêmeos separados no nascimento", disse Fred Taylor, da Universidade Oxford, um dos cientistas que coordenaram os instrumentos da Venus Express, em entrevista coletiva em Paris para divulgar o trabalho. "Bilhões de anos atrás havia até a possibilidade de Vênus ter sido habitável."
Apesar de terem surgido de maneiras semelhante, o segundo e o terceiro planetas do Sistema Solar têm hoje ambientes bem diferentes. Em Vênus a atmosfera é composta de 96% de gás carbônico (CO2), provavelmente porque o vapor de água remanescente dos oceanos evaporados foi perdido. As moléculas de H2O teriam sido quebradas pela luz solar, deixando o hidrogênio escapar para o espaço. Os átomos de oxigênio, mais pesados, ficaram no planeta oxidando quase tudo na superfície e contribuindo para o clima seco e estéril visto hoje lá. Essa teoria, reforçada agora, fora proposta a partir dos dados da sonda Pioneer, lançada em 1978 pela Nasa.

Raios extraterrestres
A sonda americana também já tinha colhido evidências de que existem descargas elétricas na atmosfera de Vênus, mas muitos cientistas acreditavam que os dados obtidos eram ruídos de interferência. Com a Venus Express, lançada em 2005, veio a certeza.
"Consideramos esta a primeira evidência definitiva de que há abundância de raios em Vênus", diz David Grinspoon, do Museu de Ciência e Natureza de Denver (EUA), outro cientista da missão.
As descargas elétricas ocorrem entre nuvens acima de 55 km da superfície, afirma um dos trabalhos publicados hoje na "Nature". Os pesquisadores consideram a descoberta importante porque eletricidade afeta a química dos gases, e cientistas terão de levar isso em conta na hora de entender melhor a composição atmosférica de Vênus. Acredita-se que raios também tenham ajudado a criar, na Terra, a química que deu origem à vida.
Mas em Vênus a realidade é outra. Apesar de o passado do planeta ter sido um pouco mais ameno -possivelmente capaz de abrigar seres vivos- hoje Vênus tem um ambiente infernal. A pressão atmosférica lá é 92 vezes a da Terra e as temperaturas de superfície chegam a até 457C. Em uma altitude de 70 km, os ventos no planeta chegam a 360 km/h -três vezes a força de um furacão.
"Ele [Vênus] deve ser o "gêmeo malvado" da Terra", diz Christopher Russell, geocientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles, autor principal do estudo que sai hoje sobre os raios em Vênus.
A espaçonave deve continuar operando até 2011. Neste período ela vai colher dados novos para explicar aspectos ainda mal compreendidos sobre o planeta, como o efeito do vento solar -partículas eletricamente carregadas emitidas pelo Sol- sobre sua atmosfera.


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