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Sonda mostra por que Vênus é seco, quente e sem vida
Espaçonave européia Venus Express revela como o planeta perdeu seus oceanos e traz prova de que existem raios lá
Orbitadora lançada em 2005 traz dados novos e confirma teorias elaboradas a partir de dados da Pioneer, da Nasa, colhidos em 1978
DA REDAÇÃO
Uma série de novas descobertas baseadas em dados da
sonda espacial Venus Express,
da Agência Espacial Européia,
deve ajudar a explicar como um
planeta tão próximo da Terra
apresenta condições tão diferentes. Uma série de estudos
publicados hoje na revista "Nature" (www.nature.com) confirmam que Vênus possuía, em
um passado distante, grandes
oceanos de água -perdidos em
razão de um efeito-estufa desenfreado- e apresentam a
primeira evidência de raios na
atmosfera do planeta.
"À luz dos dados novos, é
possível construir um cenário
no qual os climas de Vênus e da
Terra eram muito semelhantes
quando eles nasceram e depois
evoluíram para o estado que
vemos agora, como gêmeos separados no nascimento", disse
Fred Taylor, da Universidade
Oxford, um dos cientistas que
coordenaram os instrumentos
da Venus Express, em entrevista coletiva em Paris para divulgar o trabalho. "Bilhões de anos
atrás havia até a possibilidade
de Vênus ter sido habitável."
Apesar de terem surgido de
maneiras semelhante, o segundo e o terceiro planetas do Sistema Solar têm hoje ambientes
bem diferentes. Em Vênus a atmosfera é composta de 96% de
gás carbônico (CO2), provavelmente porque o vapor de água
remanescente dos oceanos
evaporados foi perdido. As moléculas de H2O teriam sido quebradas pela luz solar, deixando
o hidrogênio escapar para o espaço. Os átomos de oxigênio,
mais pesados, ficaram no planeta oxidando quase tudo na
superfície e contribuindo para
o clima seco e estéril visto hoje
lá. Essa teoria, reforçada agora,
fora proposta a partir dos dados da sonda Pioneer, lançada
em 1978 pela Nasa.
Raios extraterrestres
A sonda americana também
já tinha colhido evidências de
que existem descargas elétricas
na atmosfera de Vênus, mas
muitos cientistas acreditavam
que os dados obtidos eram ruídos de interferência. Com a Venus Express, lançada em 2005,
veio a certeza.
"Consideramos esta a primeira evidência definitiva de
que há abundância de raios em
Vênus", diz David Grinspoon,
do Museu de Ciência e Natureza de Denver (EUA), outro
cientista da missão.
As descargas elétricas ocorrem entre nuvens acima de 55
km da superfície, afirma um
dos trabalhos publicados hoje
na "Nature". Os pesquisadores
consideram a descoberta importante porque eletricidade
afeta a química dos gases, e
cientistas terão de levar isso em
conta na hora de entender melhor a composição atmosférica
de Vênus. Acredita-se que raios
também tenham ajudado a
criar, na Terra, a química que
deu origem à vida.
Mas em Vênus a realidade é
outra. Apesar de o passado do
planeta ter sido um pouco mais
ameno -possivelmente capaz
de abrigar seres vivos- hoje
Vênus tem um ambiente infernal. A pressão atmosférica lá é
92 vezes a da Terra e as temperaturas de superfície chegam a
até 457C. Em uma altitude de
70 km, os ventos no planeta
chegam a 360 km/h -três vezes a força de um furacão.
"Ele [Vênus] deve ser o "gêmeo malvado" da Terra", diz
Christopher Russell, geocientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles, autor
principal do estudo que sai hoje
sobre os raios em Vênus.
A espaçonave deve continuar
operando até 2011. Neste período ela vai colher dados novos
para explicar aspectos ainda
mal compreendidos sobre o
planeta, como o efeito do vento
solar -partículas eletricamente carregadas emitidas pelo
Sol- sobre sua atmosfera.
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