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São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

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TECNOLOGIA

Suíços demonstram sistema seguro de transmissão de informações por teletransporte a uma distância de 2 km

Sigilo quântico está mais perto do mercado

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cidadão digita o número do cartão de crédito e envia pela internet. Antes que os dados sejam transmitidos, são codificados em partículas de luz. Esses pequenos pacotes luminosos desaparecem do computador e, num passe de mágica, reaparecem no banco -ninguém jamais tem a chance de interceptar a informação.
Agradeça ao teletransporte quântico por mais uma transmissão de dados sigilosos 100% segura. Isso já existe, graças a um grupo de pesquisadores na Suíça.
Na terra dos bancos e dos relógios de precisão, Nicolas Gisin é o líder do grupo de físicos que anuncia hoje na revista "Nature" (www.nature.com) o teletransporte bem-sucedido de propriedades de fótons por um cabo de fibra óptica com dois quilômetros de extensão. A realização mostra que o efeito maluco da mecânica quântica responsável pela possibilidade do teletransporte pode ser perpetuado a distâncias maiores, escancarando a porta para tecnologias de troca de informações que vão frustrar muitos hackers por aí.
Próxima pergunta: quanto tempo falta para que a tecnologia esteja disponível no mercado? "Você pode comprá-la hoje", avisa Gisin, fundador da Id Quantique (www.idquantique.com), empresa criada pelo grupo na Universidade de Genebra.
A limitação do sistema já comercializado pela companhia (que envolve a mecânica quântica para codificar informações, mas não usa teletransporte) é de algumas poucas dezenas de quilômetros. Com teletransporte, o recorde é o atual: dois quilômetros. "Mas não é o limite. Ainda estamos trabalhando para atingir distâncias maiores", diz Gisin. "Cem quilômetros não é para amanhã, mas será viável num par de anos."

Princípio da incerteza
O slogan da ID Quantique é "um salto quântico para a criptografia". Mas poderia bem ser, sem prejuízo científico: "o princípio da incerteza é a garantia do sucesso". É fato que, se comercialmente não é bom, pelo menos é correto.
O que faz a codificação de informações em partículas de luz tão atraente é justamente o famoso princípio da incerteza, enunciado pelo físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976). Entre outras coisas, ele estabelece que, ao medir as propriedades de uma partícula, é inevitável que ela seja alterada. Assim, se alguém intercepta a informação no meio do caminho, o receptor pode detectar essa interceptação e saber que a comunicação foi monitorada.
O teletransporte oferece um recurso adicional precioso: ele faz a informação desaparecer num lugar e reaparecer em outro, garantindo que ela não tenha como ser interceptada. Desde o experimento que comprovou essa possibilidade, em 1997, muito tem se especulado sobre a futura criação de máquinas que levem objetos inteiros de um lugar a outro instantaneamente, como as plataformas de teletransporte da série de TV "Jornada nas Estrelas".

Tecnologia fantasmagórica
A alusão incomoda Gisin e seus colegas: até agora, só foram teletransportados pequenos detalhes característicos de partículas de luz, o que só pode ser útil para comunicação e computação, mas nada mais fantasioso.
"Muita simplificação excessiva tem prejudicado o campo. Ninguém nunca teletransportou um laser e ninguém sonha em fazer tal experimento", diz. "Com a tecnologia imaginável hoje, o teletransporte está limitado a sistemas quânticos elementares."
Apesar disso, ele admite que a física por trás do teletransporte pode ainda guardar surpresas. Ninguém sabe com certeza o que no Universo faz com que o estado quântico de uma partícula possa ser "magicamente" teletransportado de um lugar a outro, embora as equações e os experimentos mostrem que é assim que acontece. Até mesmo Albert Einstein, quando se referiu ao fenômeno do emaranhamento de partículas (que permite o teletransporte quântico), classificou-o de "ação fantasmagórica a distância".
"De todo modo, eu acho a implicação conceitual absolutamente fascinante", conclui Gisin. "Um objeto pode ser teletransportado de um lugar a outro sem nem mesmo existir em qualquer lugar entre os dois pontos. Isso deve chocar todos que pensam nisso."


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