São Paulo, sábado, 30 de abril de 2011

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Acervo Folha conta a descoberta do DNA

Trabalho foi relatado com cautela em 1954; reportagens mostram empolgação com a genética nas décadas seguintes

Expectativas de que os estudos levassem à vida artifical ou à clonagem humana acabariam frustradas, no entanto

DE SÃO PAULO

Um ano depois de o americano James Watson e o britânico Crick publicarem um artigo científico sugerindo a estrutura do DNA em forma de dupla-hélice, a Folha publicava, em abril de 1954, reportagem sobre o "maior enigma da genética".
Era a primeira vez (de muitas) que a dupla seria citada no jornal, como pode ser visto no site do Acervo Folha (acervo.folha.com.br) ""onde está o arquivo digitalizado do jornal. O acesso ao serviço é gratuito na fase inicial.
O texto de 1954 tinha um tom contido, evitando expressar certeza sobre as conclusões dos cientistas.
A reportagem começava, aliás, com uma pergunta, e não com uma afirmação. "Teriam descoberto os cientistas o mecanismo íntimo pelo qual a célula consegue reproduzir, nos filhos, os caracteres hereditários?"
Esse pudor não era visto apenas na imprensa. O pé atrás era geral. Tanto que, no dia 9 de setembro de 1953, uma reportagem citava o papa Pio 12 dizendo que os objetivos da genética eram "nobres", mas que era necessário "consciência da diferença entre animais e o homem".
Durante o resto da década de 1950, porém, o DNA proposto pela dupla foi conquistando a simpatia dos biólogos (e do público), e isso chegou às páginas da Folha.
Foi ficando claro também que, querendo o papa ou não, humanos e animais tinham mecanismos de hereditariedade muito parecidos. Tanto que, em janeiro de 1962, a Folha voltava ao tema.
Escrevia o jornalista e divulgador de ciência José Reis: "Notícias recentemente chegadas dos EUA e da Inglaterra falam com muito (e justificado) entusiasmo dos progressos feitos pelos cientistas na identificação do 'código genético' ou do 'código da vida', como dizem alguns".
A longa reportagem contava com uma ilustração do DNA em formato de dupla-hélice ""aquela que, hoje, encontra-se em qualquer livro escolar de biologia"" para explicar como aquele "caracol" era uma "enciclopédia" que servia para "fabricar a vida".

NOBEL
A teoria de Watson e Crick chegaria ao auge em outubro de 1962. "Quem se inicia nos segredos da vida ganha o Prêmio Nobel" era o título do texto. A empolgação com a descoberta a essa altura já era tão grande que a reportagem até exagerava um pouco.
"[A descoberta] pode levar à revelação total do mistério da vida e talvez à criação da vida em laboratório", dizia a matéria ""vida artificial, claro, não há até hoje.
Durante os próximos 30 anos, os dois seriam citados frequentemente em matérias sobre genética. Em 1984, por exemplo, o então repórter Ulisses Capozoli, hoje editor da "Scientific American Brasil", contava a história da dupla e comentava os avanços da engenharia genética nos anos 1980, dizendo que "a Rand Corporation, uma das muitas empresas multinacionais que investem pesadamente na área, estima que por volta de 2005 a clonagem humana será perfeitamente possível".

GENOMA
O grande avanço no estudo do código genético, porém, acabou não sendo a criação de clones, mas sim a decifração do genoma humano, no dia 27 de junho de 2000. "Nova era para a medicina", dizia a manchete do jornal, que circulou com um caderno especial sobre o tema.
É como se Watson e Crick tivessem descoberto o livro (a estrutura do DNA), mas fossem analfabetos naquela língua. Os cientistas cujo trabalho acabou no ano 2000 aprenderam, enfim, a ler o que estava escrito nele.


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