São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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SAÚDE

Relatório baseado em dados do governo mostra que só 35% dos remédios aprovados entre 1989 e 2000 são novidades

EUA têm "remake" de drogas, diz estudo

DO "THE NEW YORK TIMES"

Dois terços das drogas aprovadas entre 1989 e 2000 nos EUA são versões modificadas de medicamentos preexistentes ou mesmo idênticas àquelas já no mercado, em vez de remédios de fato novos, aponta um novo estudo.
O relatório, elaborado por uma organização não-governamental americana, também disse que a maior parte dos gastos com novas drogas ocorreu em produtos que, segundo a FDA (agência que controla drogas e alimentos no país), não traziam benefícios significativos sobre aqueles já no mercado.
Algumas das drogas reformuladas estão agora entre as campeãs de propaganda. Por exemplo, o Nexium, uma droga contra úlcera recém-aprovada, é uma modificação do Prilosec, cuja patente está para cair. O Clarinex, um antialérgico, é uma reformulação do Claritin. O Sarafen, para irritação pré-menstrual, é a mesma droga que o antidepressivo Prozac, que foi renomeado e reempacotado em cápsulas de cores diferentes.
"O fato é que muitas drogas novas são versões alteradas ou ligeiramente modificadas de drogas existentes e elas podem ou não ser muito melhores que o que já está disponível", disse Nancy Chockley, presidente da Fundação Instituto Nacional de Administração de Saúde, que fez o relatório.
O instituto recebe 40% de sua verba de uma companhia de seguro-saúde dos EUA e tem se batido com a indústria farmacêutica por causa de seus relatórios sobre o preço crescente dos medicamentos. A organização das indústrias, os Fabricantes e Pesquisadores Farmacêuticos da América, criticou o novo estudo, dizendo que ele era "falho e míope".
Richard I. Smith, vice-presidente de políticas de pesquisa do grupo, afirmou que, ainda se um medicamento for similar a outros no mercado, ele pode beneficiar os pacientes. Por exemplo, disse, mesmo que haja várias drogas parecidas para tratar depressão -Prozac, Zoloft e Paxil- muitos pacientes respondem a um remédio, mas não a outro.
"Se uma droga nova não tiver vantagens suficientes ela não será usada", disse Smith.

Dados da FDA
Enquanto se sabe há algum tempo que muitas das drogas aprovadas são semelhantes a outras existentes, o estudo do instituto parece ser o primeiro a usar dados da FDA para tentar determinar o quão predominantes elas são. Essas drogas são chamadas de "remédios eu também" nos EUA.
Das 1.035 medicações aprovadas pela FDA entre 1989 e 2000, apenas 361, ou 35%, continham ingredientes ativos novos. O resto continha ingredientes ativos já presentes em outras drogas. Menos da metade desses 361 remédios teve análise prioritária pela FDA devido à sua importância.
Considerando essas estatísticas, o instituto descobriu que novas drogas altamente inovadoras -aquelas que contêm novos ingredientes que oferecem melhora significativa em relação a outras drogas- só constituíram 15% das aprovações no período. A lista inclui Foxamax, para osteoporose, Avandia e Actos, para diabetes, e Viagra, para disfunção erétil.

Produção e lucro
O estudo afirma que as companhias, no período analisado, estavam apostando cada vez mais nos "remédios eu também" à medida que as patentes das drogas campeãs de vendas expiravam e elas não conseguiam descobrir medicamentos verdadeiramente novos para aumentar os dividendos tão depressa quanto esperavam os investidores.
As drogas modificadas também dão um retorno alto para o investimento, afirmou o relatório, uma vez que desenvolvê-las é muito menos custoso e demora muito menos tempo.
"É mais uma evidência de que as indústrias farmacêuticas estão virando empresas de marketing", afirmou Chockley. O estudo aponta, ainda, que os remédios novos geralmente custavam mais que seus equivalentes mais antigos, mesmo que a agência reguladora tenha considerado que eles não ofereciam vantagens significativas sobre os últimos.
(MELODY PETERSEN)


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