São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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REPRODUÇÃO

Tecido congelado de paciente com câncer permite que ela engravide depois de passar por menopausa precoce

Belgas realizam o 1º reimplante ovariano

DO "INDEPENDENT"

Foi anunciada ontem a primeira gravidez obtida após reimplante de tecido de ovário. O feito abre a perspectiva de reversão da menopausa. Cientistas o descrevem como espantoso e dizem que trará esperança a milhares de mulheres jovens que sofrem de câncer e se tornam inférteis após tratamento da doença.
A façanha também levanta questões éticas sobre os avanços no tratamento da infertilidade, pois permitiria que mulheres preservem seus ovários e fiquem grávidas depois dos 60 ou 70 anos.
Pesquisadores competiam há 15 anos para transplantar ovários humanos e permitir que uma mulher engravidasse depois de passar pela menopausa. A corrida foi vencida por uma equipe belga, que iria apresentar o resultado na reunião anual da Sociedade Européia de Reprodução e Embriologia Humanas, em Berlim.
Uma belga de 32 anos, que havia entrado numa menopausa precoce depois de passar por tratamento contra câncer, está grávida. O parto está previsto para outubro.
Mais de 18 mil britânicas abaixo de 44 anos são diagnosticadas com câncer a cada ano, e o tratamento deixa 75% delas inférteis. Simon Davies, chefe do Teenage Cancer Trust do Reino Unido, afirmou: "É uma grande notícia, é fantástico. É uma nova oportunidade que vai se mostrar útil para as pacientes de câncer, em especial as mais jovens, e lhes dará alternativas para o futuro".
Pelo menos quatro equipes estavam tentando se tornar a primeira no mundo a anunciar uma gravidez bem-sucedida. Jacques Donnez, chefe do Departamento de Ginecologia e Andrologia das Clínicas Universitárias St. Luc, de Bruxelas, tratou uma mulher belga, então com 25 anos, que havia recebido um diagnóstico de linfoma de Hodgkin avançado e teria de enfrentar uma quimioterapia que a deixaria infértil.
Em 1997, antes de passar por esses tratamento, os médicos removeram uma fina camada exterior de seus ovários, na qual a maioria dos óvulos estão armazenados. O tecido foi fragmentado e congelado a -196C.
Assim que a mulher foi declarada livre do linfoma, em 2003, o tecido ovariano foi reimplantado em seu corpo, no local mesmo onde ficavam seus ovários danificados, e o implante começou a funcionar. A paciente voltou a ter menstruações, e em abril deste ano um teste confirmou que ela havia sido fertilizada naturalmente pelo marido e estava grávida de 15 semanas.
Donnez deve publicar os resultados no periódico científico "New England Journal of Medicine" até o final do ano, mas não deu entrevista ontem. Numa entrevista a uma emissora belga de rádio, havia dito: "Ela está grávida e leva uma vida que não tinha esperança de poder viver em 1997".
O pesquisador belga derrotou uma equipe dinamarquesa e duas americanas que perseguiam a meta de provar que transplantes ovarianos podem reconstituir a fertilidade de uma mulher depois de passar pela menopausa.
Kutluk Oktay, da Universidade Cornell (EUA), que lidera uma das equipes concorrentes, afirmou: "A primeira gravidez é algo tremendo. Se ele conseguiu isso, fico extasiado".
Oktay disse, no entanto, que aguarda mais detalhes: "Se deixarmos as mulheres [se recuperarem] sozinhas, há uma chance de recuperação espontânea da função ovariana", declarou à BBC News Online. "Mas há uma possibilidade viável de que a gravidez venha desse implante."


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