São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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ARQUEOLOGIA

Topper, na Carolina do Sul, pode ter artefatos com mais de 16 mil anos; defensor da teoria deu curso na USP

Sítio apóia tese da antigüidade do homem americano

Pedro Azevedo/Folha Imagem
Os arqueólogos Tom Dillehay (à esq.) e Walter Neves, na USP


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Caçadores de mamutes capazes de produzir belas lanças e flechas de pedra não são mais o modelo dos primeiros seres humanos a colonizar o continente americano. Demorou, mas uma das teorias mais queridas dos arqueólogos, em especial os norte-americanos, continua sendo ameaçada -agora por mais um sítio, Topper, na Carolina do Sul (EUA).
Um dos defensores da tese é o arqueólogo americano Thomas Dillehay, da Universidade de Kentucky, que esteve em visita ao Brasil. Ele acredita que as descobertas feitas nos últimos anos na América do Sul já vinham demolindo o modelo pelo qual a cultura Clóvis seria a primeira a mostrar a povoação do continente.
O nome Clóvis vem de um sítio arqueológico no Novo México, Oeste dos EUA, por muito tempo considerado o mais antigo nas Américas, com datação entre 11 mil e 11,5 mil anos atrás.
Mesmo na parte norte das Américas as descobertas atacam a primazia da cultura Clóvis. Há vários sítios arqueológicos com promissoras evidências de presença humana pré-Clóvis, dos quais o mais impressionante passou a ser o sítio Topper, na Carolina do Sul.
O sítio tinha sido escavado nos anos 80 por Albert C. Goodyear, da Universidade da Carolina do Sul, que achou ali vestígios da cultura Clóvis. Mas ele parou por aí, não escavou mais fundo. Só foi fazê-lo depois que colegas como Dillehay demonstraram que havia culturas pré-Clóvis nas Américas.
"A maioria dos arqueólogos trabalhando com povoamento antigo na América do Norte tem se afastado intensamente do modelo Clóvis-primeiro", disse Dillehay no Instituto de Biociências da USP, onde visitava o pesquisador brasileiro Walter Neves. Dillehay esteve no Brasil por duas semanas para dar curso e palestra a convite do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
Segundo Dillehay, uma espécie de "imperialismo acadêmico" impedia a comunidade de pesquisa norte-americana de levar a sério os trabalhos feitos na parte sul do continente. "O motivo era simplesmente ignorância", disse ele.
Um dos sintomas da mudança foi a publicação ontem, pelo "New York Times", de reportagem sobre os últimos achados no sítio Topper. Segundo o jornal americano, Goodyear hoje tem provas de que o sílex no local teria sido usado por seres humanos para fazer ferramentas de pedra, e que teriam pelo menos 16 mil anos de idade. Goodyear espera o resultado de datações com carvão achado no local, que poderiam ser de fogueiras ainda mais antigas.
Dillehay dirigiu as escavações em Monte Verde, no sul do Chile, de 1977 a 1985, onde as características do solo garantiam a preservação até de resíduos orgânicos. Achou um acampamento utilizado por 20 a 30 pessoas, datado em 12,5 mil anos atrás -mais de mil anos antes de Clóvis. Mas só em 1997 Monte Verde começou a ganhar aceitação no mundo da arqueologia americana.
Goodyear e Dillehay foram vítimas do conservadorismo acadêmico em relação ao modelo Clóvis. Depois que alguns dos principais especialistas na área participaram de um encontro com Dillehay em Kentucky e foram ao Chile ver o sítio, um grupo escreveu um artigo na revista especializada "American Antiquity" avalizando a data de 12,5 mil anos.


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