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AMBIENTE
Substância sintetizada por pesquisadores dos EUA pode apontar novos rumos para indústria química mais limpa
Molécula faz reação sem resíduos tóxicos
MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A chamada "química verde",
que busca tratar os processos químicos de uma forma mais ambientalmente correta, ganhou um
novo aliado: a fabricação de um
catalisador (acelerador de reações) que se separa sozinho dos
produtos formados ao fim de
uma reação sem solventes.
Transformações químicas sem
solvente são uma espécie de pedra
filosofal da química. O uso desses
líquidos, usados para dissolver
outras substâncias, é banalizado
na química convencional e costuma gerar dejetos industriais tóxicos e de difícil tratamento.
Um dos grandes obstáculos para a implementação da química
sem solventes é a série de restrições que a ausência dessas substâncias traz ao uso de catalisadores, compostos imprescindíveis
em inúmeros processos industriais. Na maioria das vezes, o solvente é necessário, pois o catalisador fica nele dissolvido para poder agir e acelerar a reação.
Pesquisadores do Laboratório
Nacional Brookhaven, nos EUA,
romperam essa barreira e abriram as portas da química verde
para os catalisadores: fizeram,
sem a ação de solventes e em meio
líquido, uma reação importante
nos meios industriais, com um
catalisador desenhado de maneira a acelerar a formação dos produtos e se separar sozinho no fim
da reação, depositando-se no fundo do frasco. O catalisador também é "reciclável", podendo ser
utilizado várias vezes.
"Nosso objetivo é eliminar qualquer substância que possa vir a se
tornar um dejeto e poluir o ambiente. Por essa razão, é importante eliminar o solvente e reciclar
o catalisador para uso contínuo",
disse à Folha o químico americano Morris Bullock, 46, um dos autores do estudo.
Bullock vê ainda outros usos para seu catalisador. "Isso tem, além
das implicações ecológicas, importância econômica para as indústrias, que gastarão menos dinheiro com substâncias e processos de separação. Mas nosso foco
principal sempre foi a questão
ecológica", conta.
Separação
O catalisador que a equipe de
Bullock produziu e estudou, uma
substância à base de tungstênio e
compostos orgânicos, serviu para
acelerar a síntese de substâncias
chamadas alcoxissilanos, que têm
grande importância na indústria
de materiais cerâmicos e na pesquisa em química orgânica. "Escolhemos o tungstênio pois ele,
além de ser bastante eficaz, é mais
barato que outros catalisadores",
explica o cientista.
A reação funciona da seguinte
maneira: em um tubo de ensaio, o
catalisador, sólido, é adicionado
aos dois reagentes, substâncias líquidas, e se dissolve na mistura.
Na medida em que a reação é
acelerada, os reagentes são consumidos e o produto rapidamente
se forma, vai ficando mais difícil
dissolver o catalisador na mistura,
já que ele foi projetado especificamente para ser solúvel nos reagentes e insolúvel nos produtos.
No fim da reação, já que não há
mais reagente, o catalisador volta
a ser sólido e se separa do líquido,
descendo até o fundo do tubo. "A
reação acontece até o final, porque o catalisador age bem até
quando há muito pouco dele dissolvido na mistura", diz Bullock.
No fundo do tubo de ensaio, um
sólido como o catalisador, que,
segundo o pesquisador é um pouco pastoso, pode facilmente ser
separado dos produtos da reação
e ser novamente utilizado.
Extensão da descoberta
Embora a reação realizada pela
equipe americana seja um caso
bem específico, a descoberta pode
eventualmente ser estendida a
muitas outras reações químicas.
"Fazendo pequenas modificações em nosso catalisador, poderemos abarcar outras reações nessa visão de química limpa", afirma Bullock.
De qualquer maneira, ao aproximar os catalisadores, importantes agentes de processos químicos, de uma concepção mais ecológica, o cientista acredita ter
aberto uma nova trilha no desenvolvimento da química verde.
"Esperamos encorajar as indústrias e outros grupos de pesquisa a
trabalhar com química limpa por
meio do fornecimento de mais
ferramentas. Espero, também,
que outros no mundo se espelhem no que fizemos e aumentem
o conhecimento nessa área tão carente de desenvolvimento", conclui o cientista.
O estudo foi publicado na edição de hoje da revista científica
"Nature" (www.nature.com).
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