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CÉREBRO
Grupo nos EUA identifica seqüência responsável por controlar diferença no número de neurônios em machos e fêmeas
Nocaute em gene traz igualdade entre sexos
LAURA NELSON
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um único gene parece ser essencial para determinar diferenças no cérebro de homens e mulheres, afirmam cientistas.
O gene aparentemente está envolvido no controle do número de
neurônios em várias partes do sistema nervoso. Sem ele, afirmam
os pesquisadores, diferenças entre os gêneros seriam eliminadas.
Apesar de o estudo ter sido feito
com camundongos, o mesmo gene existe em humanos.
"Nós acreditávamos que esse
gene fosse importante para o desenvolvimento do cérebro, mas
até agora ninguém havia estudado diferenças sexuais", diz a neuroendocrinologista Nancy Forger, da Universidade de Massachusetts (EUA). Ela é a principal
autora do estudo, publicado na
edição desta semana da revista
"PNAS", da Academia Nacional
de Ciências dos EUA (www.pnas.org). "Demos sorte com a escolha dele [para o estudo]."
Os cientistas já sabiam que machos e fêmeas têm o gene especial,
batizado "Bax", e que os hormônios sexuais afetam a forma como
o cérebro se desenvolve. O que o
novo estudo faz é ligar as duas coisas, mostrando que, sem o gene,
os hormônios não podem agir.
Cérebro transexual
Nos primeiros estágios do desenvolvimento, os cérebros de
machos e fêmeas têm o mesmo
número de células. As diferenças
começam a aparecer mais tarde,
devido à ação de hormônios sexuais, como a testosterona. Mas
isso só acontece quando o Bax está presente. Ele controla quais células morrem e quais sobrevivem
em partes diferentes do cérebro.
O grupo de Forger contou células do cérebro e descobriu que camundongos fêmeas e machos são
anatomicamente diferentes em
duas partes do sistema nervoso,
conhecidas como AVPV (maior
em fêmeas) e BNSTp (maior em
machos). Depois, o grupo investigou animais nos quais o gene Bax
havia sido "nocauteado", ou desligado. Ambos os gêneros mostraram números parecidos de células do cérebro nessas partes,
embora os hormônios sexuais
não tivessem sofrido alteração.
O grupo agora pretende estudar
como os hormônios causam as
mudanças em presença do Bax.
"Não sabemos como o Bax controla a ação da testosterona", disse Forger à Folha.
"Esse estudo é interessante, mas
nós não sabemos quais são as funções dessas partes do cérebro",
diz Michael Vogel, neurocientista
da Universidade de Maryland
(EUA). Ele avisa que ainda não há
estudos que façam a conexão entre diferenças anatômicas e de
comportamento entre os sexos.
O próximo passo é buscar as tais
diferenças comportamentais.
"Nós queremos ver se certas características dos gêneros, como
comportamento sexual ou agressividade em machos, são eliminadas em camundongos sem Bax",
afirma Forger. Se isso for verdade,
significa que essas partes do cérebro são mesmo importantes.
Mas os cientistas admitem que
isso é difícil. "O que pega nessa
área de pesquisa é relacionar diferenças neuroniais com função",
afirma Vogel.
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