São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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CÉREBRO

Grupo nos EUA identifica seqüência responsável por controlar diferença no número de neurônios em machos e fêmeas

Nocaute em gene traz igualdade entre sexos

LAURA NELSON
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um único gene parece ser essencial para determinar diferenças no cérebro de homens e mulheres, afirmam cientistas.
O gene aparentemente está envolvido no controle do número de neurônios em várias partes do sistema nervoso. Sem ele, afirmam os pesquisadores, diferenças entre os gêneros seriam eliminadas. Apesar de o estudo ter sido feito com camundongos, o mesmo gene existe em humanos.
"Nós acreditávamos que esse gene fosse importante para o desenvolvimento do cérebro, mas até agora ninguém havia estudado diferenças sexuais", diz a neuroendocrinologista Nancy Forger, da Universidade de Massachusetts (EUA). Ela é a principal autora do estudo, publicado na edição desta semana da revista "PNAS", da Academia Nacional de Ciências dos EUA (www.pnas.org). "Demos sorte com a escolha dele [para o estudo]."
Os cientistas já sabiam que machos e fêmeas têm o gene especial, batizado "Bax", e que os hormônios sexuais afetam a forma como o cérebro se desenvolve. O que o novo estudo faz é ligar as duas coisas, mostrando que, sem o gene, os hormônios não podem agir.

Cérebro transexual
Nos primeiros estágios do desenvolvimento, os cérebros de machos e fêmeas têm o mesmo número de células. As diferenças começam a aparecer mais tarde, devido à ação de hormônios sexuais, como a testosterona. Mas isso só acontece quando o Bax está presente. Ele controla quais células morrem e quais sobrevivem em partes diferentes do cérebro.
O grupo de Forger contou células do cérebro e descobriu que camundongos fêmeas e machos são anatomicamente diferentes em duas partes do sistema nervoso, conhecidas como AVPV (maior em fêmeas) e BNSTp (maior em machos). Depois, o grupo investigou animais nos quais o gene Bax havia sido "nocauteado", ou desligado. Ambos os gêneros mostraram números parecidos de células do cérebro nessas partes, embora os hormônios sexuais não tivessem sofrido alteração.
O grupo agora pretende estudar como os hormônios causam as mudanças em presença do Bax. "Não sabemos como o Bax controla a ação da testosterona", disse Forger à Folha.
"Esse estudo é interessante, mas nós não sabemos quais são as funções dessas partes do cérebro", diz Michael Vogel, neurocientista da Universidade de Maryland (EUA). Ele avisa que ainda não há estudos que façam a conexão entre diferenças anatômicas e de comportamento entre os sexos.
O próximo passo é buscar as tais diferenças comportamentais. "Nós queremos ver se certas características dos gêneros, como comportamento sexual ou agressividade em machos, são eliminadas em camundongos sem Bax", afirma Forger. Se isso for verdade, significa que essas partes do cérebro são mesmo importantes.
Mas os cientistas admitem que isso é difícil. "O que pega nessa área de pesquisa é relacionar diferenças neuroniais com função", afirma Vogel.


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