São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 2002

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ASTRONOMIA

Cientista brasileira participou da descoberta

Equipe encontra relíquia estelar mais antiga na borda da galáxia

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma estrela nanica e discreta na borda da Via Láctea reacendeu a esperança dos astrônomos de encontrar exemplares da primeira ninhada estelar nascida no Universo. O astro é o primo mais próximo já descoberto das estrelas pioneiras do cosmos.
A descoberta foi feita por cientistas da Alemanha, da Austrália, dos EUA e do Brasil, com o auxílio de um telescópio no Chile, e já derruba de cara a hipótese de que as primeiras estrelas do Universo só poderiam ter sido gigantescas e, portanto, de vida muito curta. Isso reforça a possibilidade de que os cientistas voltem a encontrar astros desse tipo no futuro, talvez chegando até a ver estrelas da tão procurada primeira geração.
Em essência, uma estrela não passa de uma bola feita de hidrogênio acumulado a partir de uma nuvem de gás primordial. Quando sua gravidade se torna mais intensa, o processo de compactação do gás faz com que ela inicie fusão nuclear em seu interior, grudando átomos de hidrogênio para formar hélio. Quando uma estrela é grande o suficiente e o hidrogênio que alimenta a fusão acaba, ela começa a produzir elementos cada vez mais pesados e termina seu ciclo numa explosão, que espalha esses átomos pelo espaço.
Os átomos pesados vão parar em outras nuvens gasosas e acabam incorporados a estrelas em vias de nascer. Por essa razão, quanto mais nova é uma estrela, mais elementos pesados devem estar em sua composição. Em contrapartida, a primeira geração de estrelas deveria ser totalmente formada por hidrogênio e hélio, sem elementos pesados.
A estrela recém-estudada pelo grupo coordenado por Norbert Christlieb, do Observatório de Hamburgo, na Alemanha, tem cerca de 12 bilhões de anos, 80% da massa do Sol e concentração de ferro (um elemento pesado) equivalente a dois centésimos de milésimo da solar. A estrela menos "enriquecida" até então detectada tinha 20 vezes mais ferro.
A descoberta está relatada hoje na revista "Nature" (www.nature.com) e vai abrir portas para um melhor entendimento da história da Via Láctea e do Universo. "Esperamos encontrar outras estrelas como essa", diz Silvia Cristina Fernandes Rossi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, uma das autoras. "Em novembro mesmo estou indo ao Chile com uma lista de objetos para observação."



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