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CLIMA
Microrganismo acabou com superglaciação
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pesquisadores nos Estados Unidos dizem ter descoberto como as
piores glaciações da história da
Terra, que colocaram até o Equador debaixo de neve entre 1 bilhão
e 540 milhões de anos atrás, chegaram ao fim. Quem pôs fim a esses ciclos foram microrganismos
marinhos, capazes de devolver à
atmosfera o gás carbônico e fazer
o planeta esquentar de novo.
A teoria esboçada pelo geólogo
britânico Andy Ridgwell e seus
colegas da Universidade da Califórnia em Riverside tem como
participantes principais os minúsculos cocolitoforídeos e foraminíferos, criaturas de uma só célula que vivem em mar aberto.
Seu "corpo" unicelular é protegido por intrincadas conchas de CaCO3, ou carbonato de cálcio.
Acontece que nenhum desses
micróbios de nome complicado
existia quando o planeta passou
pela fase conhecida como "Snowball Earth", ou "Terra Bola-de-Neve". Ninguém ainda sabe muito bem qual foi o gatilho do resfriamento global, mas o pesquisador conseguiu, por meio de dados
climáticos e modelos de computador, explicar como ele se manteve e como deve ter acabado.
Depois que um primeiro resfriamento aconteceu, sequestrando parte das águas dos oceanos
em geleiras, o nível do mar caiu
brutalmente. Antes disso, o pH
(grau de acidez) dos oceanos era
regulado pela formação de CaCO3
nas águas rasas. O carbonato se
forma a partir do gás carbônico
da atmosfera, o qual, por sua vez,
causa o efeito estufa, responsável
por manter a Terra quente.
Acontece que, com o desaparecimento das águas rasas, esse mineral passou a se dissolver mais
na água, que ficou mais ácida (ele
precisa de um ambiente ácido para se dissolver). Para ajudar, ele fica ainda mais solúvel em águas
profundas, por causa da pressão.
E sua formação passou a retirar
mais gás carbônico da atmosfera,
esfriando o planeta. "O sistema
nesse mundo antigo era muito
instável", diz Ridgwell.
A coisa mudou de figura, no entanto, quanto os microrganismos
de concha evoluíram. Eles passaram a sequestrar o carbonato de
cálcio para montar seu esqueleto
calcário e reequilibraram o pH do
oceano, de forma que o gás carbônico pôde voltar à atmosfera e reter outra vez o calor do Sol na Terra. Era o fim da bola-de-neve.
"O mais interessante é que esses
organismos não fizeram isso "de
propósito", mas apenas para se
proteger. Mesmo assim, isso mudou todo o rumo da evolução na
Terra", diz Ridgwell, para quem o
episódio é prova do potencial da
vida para alterar o planeta.
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