São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Humanos causam aquecimento no pólo

Novo estudo mostra que emissão de CO2 explica temperatura na Antártida

Análise usou dados obtidos em ambos os pólos; até agora, continente antártico era o único para o qual havia dúvida sobre ação humana


ANDY COGHLAN
DA "NEW SCIENTIST"

Novas evidências apontam que os seres humanos, e não fenômenos naturais, são os responsáveis diretos pelo aquecimento das calotas polares no Ártico e na Antártida.
A notícia vem de um estudo publicado on-line ontem na revista "Nature Geoscience". Ela coincide com o anúncio, feito nesta semana, de que o gelo marinho no oceano Ártico está mais fino do que nunca desde que os registros começaram.
"Nós sabíamos que o aquecimento estava acontecendo lá, especialmente no Ártico", diz Alexey Karpechko, da Unidade de Pesquisa Climática da Universidade de East Anglia, Reino Unido. Mas determinar as causas desse aquecimento ainda não havia sido possível.
Karpechko, líder da equipe que concluiu que a atividade humana é a responsável, diz que seus resultados mostram finalmente que todos os continentes do planeta estão sendo aquecidos por atividades humanas. "A Antártida era o único para o qual ainda havia dúvida, mas não há mais."

Sem surpresa
"É uma confirmação de resultados esperados", diz Gilles Sommeria, vice-presidente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), o comitê de cientistas que monitora a mudança do clima. "Isso mostra que a influência humana já observada na maioria das regiões foi confirmada na Antártida, onde os dados eram mais escassos."
Para descobrir se a atividade humana era a culpada, Karpechko e colegas analisaram dados de temperatura coletados nos pólos ao longo do último século.
Eles usaram os dados para alimentar dois tipos de modelo climático em computador. Ambos os tipos incluíam os efeitos de fenômenos naturais, como erupções vulcânicas e ciclos de manchas solares (que ajudam a resfriar o planeta), mas apenas um deles computava as conseqüências de atividades humanas que podem afetar o clima, como níveis aumentados de dióxido de carbono -o principal gás-estufa- na atmosfera e flutuações na quantidade de ozônio na estratosfera.
Foram os modelos que incluíam os fatores humanos que se aproximaram melhor das temperaturas observadas nos pólos. "Para mim não pode estar mais claro que os humanos são os responsáveis", afirmou o pesquisador do Reino Unido.
Ironicamente, os modelos também sugeriram que o aquecimento seria ainda maior se a camada de ozônio, que bloqueia parte da radiação solar, não tivesse sido danificada pelos clorofluorcarbonos, também produzidos por atividades humanas. "Se consertarmos a camada de ozônio, o aquecimento pode ficar ainda mais forte", disse Karpetchko. "Mas, ao mesmo tempo, as coisas vão ficar ainda piores se continuarmos emitindo gases."

Gelo fino
Enquanto isso, um estudo que acaba de ser publicado no periódico "Geophysical Research Letters" revela que a espessura do gelo marinho no Ártico ocidental chegou a 49 centímetros -um quinto da média registrada na região nos últimos cinco invernos. Essa é a mesma região que viu a passagem noroeste (uma lendária rota marítima da Europa à Ásia através do Canadá, permanentemente congelada) se abrir pela primeira vez em 2007.
O grupo que fez o estudo, liderado por Katharine Giles, do Centro de Observação e Modelagem Polar do University College de Londres, usou pulsos de radar emitidos por satélite e refletidos pelo gelo para deduzir que o mar congelado ficou 26 centímetros mais fino.


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