São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Anthony Bourdain acerta ao discutir papel da gastronomia

Em livro recém-lançado, chef reflete sobre tendências da cozinha e recolhe memórias de viagens

"Ao Ponto" erra no uso caricato de palavrões e clichês, mas conquista com conselhos a novos chefs


LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO

Anthony Bourdain é aquele sujeito mordaz, nascido na metade dos anos 50 em Nova York, que ganhou fama com seu best-seller "Cozinha Confidencial", no qual escancara memórias horripilantes do submundo dos restaurantes.
Passados dez anos de seu lançamento, depois de viajar o mundo em busca de receitas e histórias inusitadas para alimentar seu programa de televisão, "Sem Reservas", ele volta com "Ao Ponto - Uma Carta de Amor Sangrenta ao Mundo da Culinária". O título chegará às livrarias nesta semana, lançado pela Companhia das Letras.
Subtítulo um pouco exagerado para o conteúdo daquelas páginas, mas vale: estamos falando de Anthony Bourdain. "Ao Ponto" começa manso. A princípio, cumpre o papel de um desenrolar de "Cozinha Confidencial".
Aposta numa linguagem autobiográfica -que merecia ser livre de tantos cacoetes ("osso duro de roer"; "se desmanchará no ar"; "apesar dos pesares"; "encarado o diabo de frente")- e retoma a infância, tempos cruéis na cozinha, drogas e mulheres.
O livro toma fôlego quando dialoga com aspirantes a chefs. Tem algo ali de "Conselhos a um Jovem Chef" (ed. Anhembi Morumbi), no qual o chef Daniel Boulud transcorre sobre o que é ser um chef de cozinha.
Bourdain esbarra em algo parecido: fala sobre escolas de culinária, sobre a importância de trabalhar numa cozinha agitada ­-de graça se for preciso. "Qualquer cozinha que o aceitar serve."
A parte em que o autor reflete sobre a gastronomia ­é o ponto alto do livro. O chef fala da reinvenção dos restaurantes depois da crise econômica de 2008, em Nova York, e conta como os preços "mais em conta" impulsionaram o ressurgimento de uma cozinha caseira, de clássicos, e o que aconteceu com a cena gastronômica com tantos restaurantes de portas fechadas.
Reúne memórias fragmentadas de suas viagens pelo mundo em um longo capítulo. Relembra o ganso assado de Hong Kong, a língua bovina feita sobre chapa de ferro, o espaguete com ovas secas e salgadas de tainha.
Com o toque polêmico que lhe é típico, traz ainda temas como "slow food" e sua líder, Alice Waters, heróis e vilãos da cozinha, os bastidores do programa "Top Chef" e seu desprazer em comer num dos restaurantes mais respeitados dos Estados Unidos, o Alínea, de Grant Achatz.
"Ao Ponto" poderia se concentrar nessas discussões. Mas é aberto e amarrado por uma autobiografia cuja fórmula já havia sido explorada no próprio "Cozinha Confidencial"-e aqui soa repetitivo o uso desmedido de palavrões e clichês.
Mesmo assim, é uma leitura que, se feita pelos temas de interesse, -que, aliás, podem ser pinçados de maneira independente- vale a pena.

AO PONTO
AUTOR Anthony Bourdain
QUANTO R$ 49,50
EDITORA Companhia das Letras




Texto Anterior: Fogo alto - Rodrigo Oliveira: Passeio na quebrada
Próximo Texto: Outro lançamento: Tradutor das "Mil e Uma Noites" conta trajetória do café
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.