São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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MEMÓRIA

Especialistas mostram que é possível recuperar até pintura original

Restauração traz à tona segredos de casas antigas

GIOVANNY GEROLLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"A casa estava horrível. Cheirava a mofo, o piso de madeira parecia ter apodrecido e todos os detalhes tinham sido pintados ou cobertos com carpete."
Diante de uma impressão como a que teve o tatuador Fernando Bertacin, 28, ao entrar em um imóvel antigo que havia herdado, a única saída parece ser cobrir tudo com novos materiais ou com fartas demãos de tinta.
No entanto, quem opta por descobrir o que uma casa longeva esconde por baixo do excesso ou da falta de reformas pode encontrar boas surpresas.
"Tem gente que pode ter um mural de [Candido] Portinari na sala e não sabe", exemplifica o restaurador Julio Moraes, completando que preciosidades como essa podem ser descobertas no centro e nos Jardins.
Mesmo que o achado não tenha valor artístico, pode ter grande peso estético, como pisos de madeira desenhados ou detalhes pintados na parede que, recuperados, ficam como novos.
O resgate não é barato. "O preço de um interior completo, por exemplo, pode ir de R$ 1.500 a R$ 3.000 por metro quadrado", diz o restaurador Antonio Sarasá.
Para fazer o orçamento, leva-se em consideração o estado de conservação do material, e não sua natureza. A maior parte dos custos destina-se ao pagamento da mão-de-obra. "Gastos com material representam de 10% a 20% do custo total", afirma Moraes.

"Bacalhau"
O primeiro passo para a recuperação é consultar um arquiteto que saiba investigar o valor histórico do imóvel. Alguns têm especialização em restauro e podem colocar a mão na massa. Outros chamam um restaurador para fazer a prospecção e o reparo.
Com bisturi e solventes, extraem-se as diversas camadas de revestimento para descobrir as alterações feitas ao longo dos anos, como as das cores da parede ou o emparedamento de uma janela.
Identificadas as características originais da casa, parte-se para a restauração, que não é simples. Pisos, rodapés e esquadrias de madeira muito danificados pela umidade ou por cupins recebem um enxerto. A técnica, chamada de "bacalhau", consiste em remover a parte afetada e substituí-la por madeira nova.
Superfícies não deterioradas são raspadas e tratadas. Geralmente tenta-se fazer a limpeza com água, adicionando, a cada etapa, álcool ou acetona.
Isso porque cada tipo de sujeira pede um solvente. A conservação do original depende do uso de produtos menos agressivos nas áreas menos sujas. O que está exposto também esconde segredos. Telhas, tijolos e ladrilhos hidráulicos voltam a mostrar a cor original após a restauração.


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