São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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SAÚDE

Móveis com reentrâncias, bichos de pelúcia e carpetes estão vetados nos ambientes em que vive quem sofre do mal

Na casa do alérgico, médicos assumem papel do decorador

ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Um alérgico precisa ter uma casa "clean" -em todos os sentidos. E também necessita ter poucos móveis, de linhas retas. Não se trata de uma tendência de moda. É que o mobiliário mais trabalhado, cheio de reentrâncias, junta muita poeira -a inimiga número um das vias respiratórias.
Carpetes, tapetes, cortinas, bichinhos de pelúcia vão se dar mal nessa casa. Também estão vetados pelo mesmo motivo. Na verdade, antes de aparelhar o seu lar, o alérgico tem de consultar não um decorador, mas um médico.
"No lugar de estofados e veludos, devem ser usados plásticos, couro e vinil", diz a alergista Fátima Emerson, 50, presidente-executiva da Sociedade Brasileira de Asmáticos, que criou uma cartilha sobre a casa saudável, em parceria com a Policlínica Geral do Rio de Janeiro. "Móveis desse tipo são mais fáceis de limpar, com um pano úmido apenas", explica.
Para a médica, que também é professora de pós-graduação da Fundação Carlos Chagas, a casa faz parte do tratamento de quem sofre de distúrbios respiratórios. "Não adianta trabalhar só com remédios. O remédio alivia, mas é preciso melhorar o ambiente."
Ventilação e insolação são essenciais para isso. O alergista Fábio Morato Castro, 47, diretor da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia e professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), defende essa idéia. "A primeira recomendação, antes de usar purificadores de ar e outros equipamentos, é arejar o ambiente e permitir a entrada de bastante sol."

Vassoura
Fátima Emerson concorda e diz que portas e janelas devem ficar abertas mesmo que haja a poluição típica de uma grande cidade. "Obviamente que poluição urbana é fator irritante para o aparelho respiratório, mas não abrir a janela é complicado. É mais saudável levar uma vida normal, não se trancar numa redoma."
Um equívoco comum é espanar ou varrer o chão com vassoura. A médica diz que isso só levanta poeira. O segredo é passar todos os dias um pano molhado com água e álcool.
A moda cama também está sob a mira dos médicos. O quarto é um dos principais focos de problemas. "O ácaro [animal microscópico] é o maior inimigo dos alérgicos. Colchões e travesseiros muito bem cuidados melhoram a qualidade de vida dos doentes", avalia Fátima Emerson.
Capas impermeáveis, com algodão por fora e plástico por dentro, protegem colchões e travesseiros contra a contaminação.
E a proteção é mesmo necessária. De acordo com Saul Vibranovski, 63, proprietário da Alergo House, loja carioca especializada em produtos e serviços para alérgicos e em proteção ambiental para documentos, um colchão com quatro anos tem 20% de seu peso só com resíduos de ácaros -fezes e carcaças.



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