São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008

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Entulho vira estrutura

Pesquisadores reciclam resíduos de obra e obtêm areia e brita de qualidade para concreto armado

Marcelo Justo/Folha Imagem
Peneirar o resíduo moído faz parte do processo de obtenção do material reciclado, que é realizado em laboratório da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo)

CRISTIANE CAPUCHINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O entulho de obras passa a ter função mais nobre na construção com uma técnica de reciclagem que produz areia e brita para concreto estrutural.
Os resíduos, que serviam só para o uso em pavimentação, poderão ser utilizados em todas as fases da obra, reduzindo o desperdício de materiais.
A tecnologia foi desenvolvida pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Apesar de estarem em fase laboratorial, os produtos satisfazem padrões de resistência da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
O processo é similar ao usado por usinas de reciclagem para obter agregado reciclado -o entulho é moído e peneirado.
Entretanto, o produto desse processo tem baixa resistência, uma vez que o entulho tem materiais com maior porosidade que a do concreto -como pasta de cimento, betume e amianto.
No projeto, tocado pelos departamentos de Minas e Petróleo e de Construção Civil da Poli-USP, desenvolveu-se um processo que separa resíduos por granulometria (diferença de tamanho dos grãos) e densidade. Por meio dele, é possível obter brita similar à natural.
"Produzimos um concreto que pode ser utilizado em condições normais [fora de laboratório]. Os dados de resistência são os mesmos da brita virgem", afirma Vanderley John, responsável pelos testes de conformidade com a ABNT.
A pesquisa trabalhou com entulho recolhido em São Paulo, Macaé (RJ) e Maceió (AL) para desenvolver uma tecnologia capaz de reciclar resíduos de diversas características com a mesma qualidade final.
O próximo desafio é obter areia reciclada para argamassas de acabamentos finos. Isso ainda não é viável porque os grãos obtidos na reciclagem são mais angulosos do que os naturais.
Carina Ulsen, responsável pela pesquisa no Laboratório de Caracterização Tecnológica da USP, conseguiu bons resultados no polimento por atrito -os grãos "batem" uns nos outros em equipamentos específicos-, porém a resistência do material ainda não foi testada.


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