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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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RECICLAGEM

Trituradores são outro recurso para reduzir os dejetos caseiros

Composteira transforma lixo orgânico em adubo

BRUNA MARTINS FONTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para que os restos do jantar de hoje ajudem no cultivo das refeições de amanhã, há quem dispense tratamento diferenciado ao lixo e construa em casa pequenas "usinas" para compostagem.
Isso significa que os resíduos orgânicos são coletados em um recipiente. O material se decompõe -sem exalar cheiro ou atrair insetos, se o processo for corretamente seguido- e produz um composto usado como adubo.
"A iniciativa reduz em mais de 50% o peso total do lixo", diz Ana Maria de Meira, 26, engenheira florestal e educadora do projeto USP (Universidade de São Paulo) Recicla. Ela se refere à compostagem, mas o número serve para a trituração, outra técnica para diminuir a quantidade de resíduos orgânicos em casa.
A diferença é que, instalado na pia, o triturador apenas fraciona os dejetos, que, posteriormente, são lançados no esgoto e não voltam na forma de adubo.
Cada paulistano gera, em média, 700 gramas de lixo por dia, o que totaliza 10 mil toneladas diárias na cidade. Conforme a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, cerca de 35% do lixo pode ser reciclado, e outros 35%, transformados em adubo orgânico.

Ralo abaixo
A dona-de-casa Luciana Brandão Lisboa, 34, conta que em seu prédio encontrou problemas com o descarte do lixo.
"Os vizinhos viviam discutindo por causa da má embalagem." Isso a motivou a adotar, há cerca de um ano, um triturador, que utiliza para jogar todo material orgânico que consome em casa, "inclusive ossos".
"Assim, evito lixeiras. Acho mais higiênico", diz Lisboa, que também encaminha materiais para reciclagem, minimizando ainda mais o volume jogado fora.
O sistema é popular nos EUA. "Eles [os norte-americanos] têm hábitos diferentes dos nossos, compram tudo pronto, enquanto nosso lixo tem muita matéria orgânica", pondera a bióloga Maluh Barciotte, diretora-presidente do Instituto Kairós (organização não-governamental que trata de consumo responsável).

Não suportável
Em São Paulo, a rede de tratamento de esgoto não suportaria um aumento grande de material orgânico, diz o engenheiro sanitarista Américo Sampaio, 45, gerente de controle sanitário da diretoria de sistemas regionais da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
"As estações [de tratamento] foram projetadas para tratar uma carga orgânica média. Se ela aumentar substancialmente, a capacidade de tratamento não será suficiente." Ele recomenda descartar apenas parte, e não todo o lixo orgânico, no triturador. E afirma que, como 35% do esgoto do Estado não é tratado e vai para os rios, esse aumento de matéria orgânica pode prejudicá-los.
Biólogos e especialistas em ambiente explicam que a matéria orgânica alimenta bactérias que retiram o oxigênio da água e cuja proliferação pode causar a morte de peixes, como no rio Tietê.



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