São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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ENSAIO

Como montar um estúdio é caro, grupos iniciantes tentam preservar a paz dos vizinhos com materiais improvisados

O som pode ser alternativo, o isolamento, não

Roberto Assunção/Folha Imagem
No começo de carreira, os integrantes da banda de heavy metal Korsus chegaram a ser apedrejados pelos vizinhos


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Antes de começar a fazer barulho, toda banda iniciante deveria saber mantê-lo restrito ao espaço onde ocorre o ensaio. Algumas até que tentam, mas tudo o que conseguem é exercitar a arte de improvisar quartos, garagens e ineficientes isolantes acústicos.
A Lei do Silêncio determina que, entre as 22h e as 7h, é proibido ultrapassar os 50 decibéis. Se uma conversa civilizada gera esse nível de ruído, imagine uma guitarra distorcida pilotada por um adolescente cheio de hormônios.
Para atenuar o sofrimento dos vizinhos, músicos vêm recorrendo cada vez mais a produtos alternativos, alegando que um isolamento com eficiência total é caro.
Segundo Alberto Paim da Costa, consultor de acústica, custa de R$ 15 mil a R$ 20 mil revestir um quarto de 3 m x 4 m. A lã de vidro é considerada um revestimento eficaz, "mas complementar". "Chumbo é material isolante, mas muito caro. Entre os mais usados, o mais eficaz atualmente é o dry wall (gesso acartonado)."

Idéias
Sem recursos para investir em um isolante tradicional, os membros da banda Os Maccacos forraram com placas de isopor as paredes de um quarto na casa do baixista Anderson. O guitarrista Reinaldinho, 23, resume a opinião da banda: "Dá uma abafada legal".
Neto Nunes, 21, que toca nas bandas Brilhantines e Old Suit, em Cerquilho (146 km a oeste de São Paulo), não recomenda o isopor e aponta alternativas curiosas. "O legal é pegar colchões hospitalares ou espumas especiais."
A arquiteta Regina Adorno aponta o isopor como uma saída, mas recomenda a lã de vidro. O material é um dos mais caros, porque, para a sua aplicação, é necessária a construção de uma parede de gesso separada por um vão de 5 cm a 10 cm (câmera de ar) da parede já existente no local.
A banda de heavy metal Korsus acumula 18 anos de reclamações de vizinhos. O primeiro isolante usado foi o carpete, em 1992, depois que os metaleiros enfrentaram a polícia e pedradas de vizinhos na zona sul de São Paulo.
Atualmente, o grupo ensaia em um estúdio profissional, mas já passou por um escritório, em Cidade Ademar (zona sul). Lá, o combinado era começar a ensaiar depois das 20h, quando as salas comerciais ficavam vazias.

Padecendo no paraíso
Os "veteranos" da banda Sufrágio, na estrada há 16 anos, são outros colecionadores de queixas e as personificam numa vizinha chamada Cristina. "Ela batia em casa e pedia para o ensaio parar, porque a gente só fazia cover do Ira!", lembra Reinaldo Andreatta, 33, guitarrista, vocalista e irmão de Ronaldo, o baterista do grupo.
Depois da fase "light", nem a mãe aguentou ficar em casa aos sábados. "Quando começamos a tocar músicas do Jesus and Mary Chain [banda britânica dos anos 80 que inseria microfonia nos arranjos], meus pais passaram a visitar parentes que eles não viam havia 30 anos", brinca Reinaldo.
Os pais são as vítimas mais imediatas do barulho produzido pelos filhos músicos. Marcelo Scanzani Serra, 22, guitarrista da banda Chaotic Sound System, costuma treinar horas no seu quarto, na casa dos pais. "Nenhum vizinho reclama, mas meu pai pede para eu tocar mais baixo", conta.
Como essa não é a intenção, e fazer um quarto com isolamento acústico, por enquanto, é apenas um sonho, Marcelo só toca quando o pai não está em casa.
Há quem diga que alguns vizinhos aprovam o som. É o caso da banda de reggae Planta & Raiz, que ensaia na casa do baixista Samambaia. Eles costumam receber os jovens da região em seus ensaios. (FERNANDA CASTELLO BRANCO)


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